Tendência vem sendo verificada este ano na cidade, que tem pouco mais de 23 mil habitantes e enfrenta problemas como tráfico de drogas e reduzido efetivo policial
Na 9ª audiência pública promovida pela Comissão de Segurança na quinta-feira (10), desta vez em Ecoporanga, os deputados ouviram que o município passa por um período de recrudescimento da violência. Essa tendência vem sendo verificada nesse ano, em que pese a ação policial – insuficiente, no entendimento da comunidade e demais autoridades locais, segundo o juiz da Vara Criminal Bruno Frioli Almeida.
O juiz observou que a região tem muitos problemas de segurança e precisa administrar limites com dois estados, sem as devidas condições de promover a segurança.
“Vivemos na mera sorte. Temos baixo número de efetivo, de apenas três investigadores para 20 mil habitantes. O efetivo da polícia tem sido reduzido, sem Serviço Médico Legal (SML), sem investimento, sem projeto. A gente vive num quadro muito romântico na segurança pública. Temos de enfrentar a segurança como ela deve ser enfrentada”, avaliou Almeida.
Para o delegado da 14ª Regional de Barra de São Francisco, Leonardo Dutra, a sua unidade é a que está em situação pior no estado. Faltam policiais e há apenas dois investigadores:
“A situação nossa é desesperadora. Estamos bem perto do fundo do posso. Não estamos dando conta dos crimes. Nosso plantão funciona com quatro equipes, o mínimo possível. Nossos policiais não têm direito a passar mal, ficar doente”, relatou Dutra.
Segundo Dutra, esta sendo feita a transferência de funcionários de um lugar para outro para tentar cobrir as lacunas. Ele destacou também a falta do SML e do veículo utilizado para o transporte de cadáveres.
Falta efetivo
Para o vereador de Ecoporanga Nélio Henrique Quedevez, a situação da segurança no município é preocupante, em que pese o trabalho da polícia, que tem um número muito pequeno, mas com resultados importantes. “Nós estamos precisando que o estado olhe com carinho para a Região Noroeste. Ecoporanga não pode ficar esquecida”. De acordo com Quedevez, é necessário aumentar o efetivo policial e estruturar melhor o judiciário.
Essa opinião é reforçada pelo também vereador de Ecoporanga Gilmar Henrique Quedevez, para quem o crime organizado tem controle da situação e o governo está desorganizado. Ele disse que a presença da polícia evita que o crime seja cometido ou a comunidade sofra ameaças e que a participação da sociedade também é importante.
Já presidente da Câmara Municipal de Ecoporanga, Greidismar Lopes dos Santos, opinou que o crime está migrando para a região. Conforme relatou, lugares então pacatos estão sendo vítimas de roubos. Santos enfatizou que na zona rural não há segurança.
Insegurança noturna
O presidente da Associação dos Universitários de Ecoporanga, Josimar Ferreira da Costa, reivindicou segurança para os alunos que retornam das aulas no período noturno, vindos de Nova Venécia. Ele disse que os alunos desembarcam no centro da cidade e têm que seguir para suas casas que geralmente ficam distantes, muitas delas na zona rural do município.
Segundo o promotor de Justiça da Vara Criminal de Ecoporanga Geraldo Vasconcelos de Abreu, um dos problemas na região é o tráfico de drogas, que vem dos municípios vizinhos de Minas (por exemplo, Atalaia) trazido por organizações criminosas.
Ele reforçou a necessidade de a polícia e o município ter uma delegacia apropriada. Para0 Abreu, é importante para o estado ter uma polícia de inteligência para que trabalhe na prevenção e não somente na repressão.
Concentração de processos
Além da polícia, outro setor que precisa de melhorias é o judiciário. O vice-presidente da 5ª Subseção Barra de São Francisco da Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES), Jones Madison Telles, informou que está havendo extinção de comarcas e concentração de processos na Comarca de Barra de São Francisco.
“Nós advogados do noroeste estamos muito preocupados com a notícia de que vai acontecer uma migração de várias comarcas”. Seria a junção de várias comarcas em uma só, se concentrando em Barra de São Francisco. O que significa o dificuldades de acesso da população aos tribunais na região e a concentração de processos.
Usuários de drogas
A presidente da Associação Pestalose de Ecoporanga, Dinéia Freitas de Argolo, relatou o trabalho da instituição com jovens usuários de drogas. Ela reivindicou o funcionamento do Conselho de Segurança do município.
Para o comandante da 2ª Companhia do 1º Batalhão da PM, capitão France Coimbra Elyzey, o problema de segurança afeta todo o estado. Ele considera que o homicídio não é o problema maior, e município está na média, inclusive da ONU.
“Se formos analisar desde 2011, temos um gráfico decrescente. Mas cresceu em relação ao ano passado”. Para o capitão, mais importante que a reativação do Conselho Municipal de Segurança é o Gabinete de Gestão Integrada Municipal de Segurança, que é deliberativo.
Pontos positivos
O subcomandante do 11º Batalhão PM, major Jefson Coelho Correia, elogiou a comissão que tem estado presente em todas as regiões do estado conversando com a sociedade para saber da realidade e das necessidades locais. Reforçou as informações de capitação Coimbra e considerou heroica a atuação policial que, com menor efetivo que nos anos anteriores, consegue diminuir a criminalidade no período, segundo ele.
O representante da Delegacia de Polícia de Ecoporanga Danilo Silva Nobre observou que é preciso que a população conheça melhor a polícia. “Meu apelo é que de se valorize os profissionais da segurança. Precisamos mostrar que a polícia é importante”, reivindicou.
O presidente do Sindicato dos Inspetores Penitenciários (Sindap), Rhuan Fernandes, relatou as dificuldades encontradas nas penitenciárias. Disse que os profissionais da segurança precisam ser valorizados e disse que a atividade penitenciária é pouco conhecida e reconhecida. Lembrou que foi aprovada no Congresso lei que cria a polícia penitenciária, fato positivo para a polícia e que o estado logo terá de regumentá-la.
Deputados
O presidente da Comissão de Segurança, deputado Delegado Danilo Bahiense (PSL), destacou que “a violência aqui em Ecoporanga é de chamar atenção, numa cidade de 23 mil habitantes. São assassinatos, sequestros, furtos. Certamente a polícia tem muito trabalho, além da falta de efetivo e da defasagem salarial”, observou.
O deputado Capitão Assumção (PSL), membro efetivo da Comissão de Segurança, fez críticas ao programa Estado Presente do governo do estado. “Tenho a convicção de que ele não saiu do papel. São 41 páginas em PDF”, disparou. O que há, segundo ele, são reuniões para apresentar números ao governador. Ele propôs que todos os setores voltados para a segurança dialoguem para buscar soluções e atender aos os anseios da sociedade.
O conjunto dessas audiências públicas resultará em um relatório a ser elaborado pela Comissão de Segurança e apresentado aos poderes constituídos. A comissão já realizou audiências em Colatina, Cachoeiro de Itapemirim, Aracruz, Vila Velha, Linhares, Fundão, Guaçuí e Rio Novo do Sul.
Mesa
Além dos deputados Bahiense e Assumção, compuseram a mesa do evento as seguintes autoridades: o presidente da Câmara Municipal de Ecoporanga, Greidismar Lopes dos Santos; o juiz da vara criminal Bruno Trípoli Almeida; o promotor de Justiça Geraldo Vasconcelos de Abreu; o capitão Coimbra da 2ª do 11º Batalhão; Fernando Paulo, o 1º sargento do Corpo de Bombeiros; o delegado da 17º Líbero Carvalho Filho; capitão Jefson; o delegado da 15ªregional, Leonardo Dutra; o representante da Delegacia de Ecoporanga Danilo Nobre; o vice-presidente da 5ª Subseção Barra de São Francisco da Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES), Jones Madison Telles; o presidente do Sindap, Rhuan Fernandes; o presidente do Comitê das Águas de Ecoporanga, Ivete Fagundes; o presidente da Associação dos Moradores Vale Encantado e Jardim Paulista, Divino da Silva; o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ecoporanga, Rosângela Silva; Gilmar Henrique Quedevez e Nélio Henrique Quedevez, vereadores de Ecoporanga; e o prefeito de Água Doce do Norte, Paulo Leite Ribeiro.
Por Wanderley Araújo | Ales.