Circulação e Intercâmbio
Sediado em Guaçuí, no sul do Espírito Santo, o grupo teatral Gota, Pó e Poeira está passando uma temporada em Minas Gerais, onde participa da sétima edição do Festival Nacional de Teatro de Passos e Região. A trupe abriu o evento, no último sábado (15), com apresentação do espetáculo “Bumba Meu Boi”, na Praça Matriz da cidade de Alpinópolis.
O Gota, Pó e Poeira permanece no festival até o último dia do evento, no próximo domingo (23). “Além da primeira apresentação, nesta terça-feira (18) vamos exibir o espetáculo também na cidade de Passos, dentro da mostra competitiva oficial do festival. Todo o elenco está bem feliz com os resultados da primeira apresentação, que foi bem acolhida pelo público na praça e também pela possibilidade conhecer trabalhos de outros estados. É um intercâmbio muito importante, que só tem a somar e favorecer o crescimento do grupo”, pontua Carlos Ola, diretor do grupo há quase quatro décadas.
De acordo com ele, o espetáculo “Bumba Meu Boi” é uma adaptação livre da tradição nordestina, incorporando elementos da cultura capixaba – especialmente da história de Guaçuí, cidade natal do grupo. “Além de apresentar esse espetáculo, vamos participar de inúmeras atividades do festival, incluindo debates e oficinas. Fora a rede de intercâmbio com os outros grupos, visando à formação e à informação”, acrescenta.
Carlos Ola ressalta que o festival é um dos mais importantes de Minas Gerais, uma vez que reúne grandes espetáculos e nomes de peso da cena teatral brasileira. “Isso atraiu nosso grupo, ano passado, quando levamos os espetáculos ‘A estória do homem que vendeu sua alma ao diabo e quase perdeu o seu amor’ e ‘Os Sacrilégios do Amor’. Ambos tiveram boa repercussão e ganharam prêmios. O festival é uma vitrine para todos os grupos. A partir dele, podemos articular parcerias e intercâmbios, buscar mais amadurecimento. Além disso, há o lado afetivo, pois a produção do festival sempre nos recebe com enorme carinho.”
Bumba Meu Boi
Com elementos da cultura popular, o texto narra a trajetória de Chico, empregado de uma grande fazenda que acaba de receber um boi muito caro para cuidar. Já sua esposa, Catirina, está grávida e tem desejos estranhos – um deles é o de comer a língua do boi mais caro e mais bonito da região. Chico hesita em atender ao desejo dela. Porém, com medo de que seu filho nasça com cara de boi – e tentado por Belzebu –, resolve arrancar a língua do animal. A partir daí, arrependido, tem que recorrer ao sincretismo religioso para reverter o feito e não ser punido pelo Coronel, dono do boi.
Carlos Ola explica que, embora seja uma tradição com raízes específicas do nordeste, o bumba meu boi chegou a praticamente todos os estados brasileiros, passando por modificações em sua maneira de contar e cantar, pois cada povo foi criando e recriando o “causo” que, a princípio, falava de sua negritude e religiosidade.
“Em nossa proposta, inserimos elementos da estrutura familiar oligárquica (o Coronel e a Sinhazinha), do proletariado (o Capataz, Chico e Catirina), além de outras profissões, como o doutor, o padre e o pai de santo (estes dois também religiosos). Há ainda espaço para outras culturas, como a dos ciganos – todos representando esse sincretismo que faz parte de nosso cotidiano”, observa o diretor.
O grupo teatral Gota, Pó e Poeira participa do festival com recursos do Estado, por meio do edital Circulação e Intercâmbio, da Secretaria da Cultura (Secult). Segundo Carlos Ola, é um mecanismo de fomento indispensável, pois possibilita a muitos artistas e fazedores de cultura circular com seus trabalhos, sobretudo fora do Espírito Santo, para que a cultura local seja conhecida para além destas terras.
“Todo grupo ou companhia anseia mostrar seu trabalho para o mundo. E festivais e mostras não oferecem cachês nem ajudas de custo, para subsidiar as estadias. O edital, ao investir esses recursos, permite que a cultura capixaba seja vista também em outros estados, apresentada nesses festivais, ou mesmo fora do país. Iniciativas assim contribuem para dar mais visibilidade à nossa cultura”, afirma o diretor.
Por Tiago Zanoli
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