Cultura | ES
Quais são as mudanças que o País vivenciou após 64 anos da aclamada publicação do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”, da escritora negra Carolina Maria de Jesus? É o que busca responder o espetáculo “Feita de Papel”, da Companhia Mais um Conto Mais um Ponto, que será apresentado neste fim de semana, no Teatro Municipal Fernando Torres, em Guaçuí, região centro sul do Espírito Santo, com entrada franca.
Na dramaturgia, a companhia teatral revisita o diário que ainda representa um país castigado pelo racismo estrutural e opressor da mulher negra brasileira.
Na história, Carolina Maria de Jesus e Eliane Correia, atriz do espetáculo, mergulham no paralelo que permeia a existência das duas. Desafios, desejos, lamentos e triunfos são colocados em paralelo para serem confrontados na realidade do palco.
“Não é um desafio simples. Vou reviver Carolina e eu mesma no palco. Um fio do tempo de uma das mulheres mais extraordinárias deste País, e eu, atriz, negra, que venho seguindo os avanços intangíveis da minha própria existência, assim como Carolina. É uma fusão e um reflexo. Ela e eu. O Brasil de Carolina e o meu Brasil pela poesia que fala da nossa existência diária. Um desafio que eu amei vivenciar. ‘Feita de papel’ é uma experiência que vai tocar a alma dos espectadores”, afirma Eliane Correia.
A obra literária de Carolina Maria de Jesus foi traduzida para dezesseis idiomas e distribuída para mais de quarenta países. No livro, a autora narra o cotidiano trágico dos moradores da Favela do Canindé. O texto é um marco na escrita brasileira por revelar, em primeira pessoa, como ela conseguiu ser resiliente por meio da escrita e da educação, como descreve em um de seus pensamentos: “Quem não tem amigo, mas têm um livro, tem uma estrada”.
Inspiração
A companhia guaçuiense vem sonhando com o “Feita de Papel” há seis anos e trabalhando no processo desde a pandemia. E a ideia de fundir os feitos de Carolina Maria de Jesus com o universo de Eliane Correia partiu da inspiração de Gilvan Balbino, amigo da atriz e pesquisador da obra da escritora negra, ao comparar a história de garra, persistência e vivência das duas mulheres.
“Feita de Papel” não vai responder o que mudou de lá para cá. Mas vai expor que até os dias atuais, as mulheres “desafiam estereótipos e assumem papéis múltiplos para sobreviver e, acima de tudo, para inspirar”, decreve a sinopse do espetáculo.
A montagem foi realizada por meio de incentivo do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio da Secretaria da Cultura (Secult), via Edital nº10/2022 – Linha 1 – Projetos de Teatro: Criação e montagem de espetáculos teatrais, circulação de espetáculos e projetos livres em diferentes formatos.
Por Tati Beling e Danilo Ferraz
Siga A IMPRENSA ONLINE no Instagram, Facebook, Twitter e YouTube e aproveite para se logar e deixar aqui abaixo o seu comentário