O mundo está vivendo em estado de emergência para enfrentar a ameaça epidemiológica provocada pelo novo coronavírus. Uma das maiores preocupações dos profissionais da área da saúde, de governantes e de parte da população está relacionada à quantidade de leitos hospitalares disponíveis no país para atender a pacientes que contraíram a doença.
No Estado do Espírito Santo, a situação não é diferente e a preocupação se justifica, segundo a pesquisa realizada pelo Núcleo de GeoSaúde do Departamento de Geografia da Ufes. Os dados apontam que alguns municípios capixabas não possuem leitos hospitalares para internação, nem respiradores – aparelhos utilizados para auxiliar os pacientes que apresentam insuficiência respiratória, um dos principais sintomas da doença.
O trabalho desenvolvido pelo GeoSaúde apresentou que o estado possui 7.929 leitos hospitalares (incluindo os leitos psiquiátricos e cirúrgicos, as unidades de terapia intensiva, as maternidades e as enfermarias). Desse total, 64% são pertencentes ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A maior parte dos leitos para internação está disponível na região da Grande Vitória, sendo que a capital concentra 1.695 leitos. Desses, 1.135 são pertencentes ao SUS e 560, à rede particular. Em seguida, está o município de Vila Velha, com 864 leitos, sendo 435 administrados pelo SUS e 429 pela rede particular. Após, com 754 leitos, está o município de Serra, com 474 administrados pelo SUS e 280 pela rede privada. No interior, Cachoeiro de Itapemirim possui 520 leitos, e Colatina, 484.
Por outro lado, o estudo identificou que, entre os municípios onde não há leitos para internação, estão Brejetuba, Dores do Rio Preto, Ibitirama, Mantenópolis, Marechal Floriano, Presidente Kennedy, Rio Novo do Sul, São Domingos do Norte, Sooretama e Viana.
“O objetivo do mapeamento foi saber qual é o cenário atual dos leitos hospitalares no estado, onde eles estão localizados e a quantidade de respiradores. No entanto, o estudo observou que existe uma desigualdade na distribuição dos leitos entre os 78 municípios capixabas. O que é preocupante, uma vez que, em 30% dos municípios, não existem leitos para atender à população”, explica o coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Geografia da Ufes, Rafael Catão.
O professor enfatizou que 20% dos leitos estão concentrados em Vitória, e boa parte deles não está preparada, por exemplo, para receber pacientes com o novo coronavírus. “Vale ressaltar que nenhum país do mundo está preparado para atender a demanda da COVID-19”, disse o pesquisador.
Respiradores
De acordo com a pesquisa, existem 1.468 respiradores disponíveis no Espírito Santo. Desse total, 552 estão na rede pública; 520, em hospitais filantrópicos; e 396, na rede privada. A maior parte desses equipamentos está em Vitória, com 387 unidades. Na sequência, estão os municípios de Vila Velha (249) e Serra (192).
A pesquisa identificou também que várias cidades capixabas não possuem respiradores, como Águia Branca, Brejetuba, Laranja da Terra, Mucurici, Piúma e Vila Pavão.
O mapeamento dos leitos hospitalares e de número de respiradores disponíveis foi realizado a partir de dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde e contou com a contribuição de três estudantes de mestrado e sete alunos de graduação da Ufes. O levantamento dos dados foi finalizado em março.
O professor Catão informou que o Núcleo de GeoSaúde também está analisando os números de médicos e enfermeiros, os tipos de leitos existentes e a difusão do novo coronavírus no estado.
O Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes) funciona com 277 leitos, atendendo, gratuitamente e 24 horas por dia, a pacientes do SUS de todos os municípios do Espírito Santo.
Texto: Jorge Medina