DNA e Inteligência Artificial

*Por Osvaldo Artigalás, médico geneticista do Hospital Moinhos de Vento

Dia Mundial do DNA, 25 de abril, marca a descoberta da estrutura de dupla hélice do ácido desoxirribonucleico (DNA), em 1953, por James Watson e Francis Crick baseados nas pesquisas desenvolvidas por Rosalind Franklin. Essa molécula, presente em todas as células do corpo humano, guarda o “manual de instruções” genéticas, codificando a complexidade da vida. Para além de um marco da biologia molecular, o DNA tornou-se peça-chave na revolução atual que vem transformando a medicina.

O avanço das tecnologias de análise genômica – especialmente após o Projeto Genoma Humano em 2003 –, abriu caminho para uma nova era: a Medicina Personalizada. Por meio da análise do DNA de cada paciente, é possível entender como variações genéticas influenciam a predisposição a doenças, resposta a medicamentos e a eficácia de tratamentos. É um novo paradigma, em que diagnósticos, terapias e medidas preventivas são adaptados ao perfil genético de cada pessoa.

Atualmente, testes genéticos são usados para mapear riscos hereditários com grande impacto na saúde pública, como no caso de câncer, doenças cardíacas e condições neurodegenerativas – com anos de antecedência. Por exemplo, mulheres portadoras de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 têm até 80% mais chances de desenvolver câncer de mama ao longo da vida. Identificar esse risco precocemente permite estratégias preventivas como rastreamento intensificado, uso de medicamentos profiláticos ou mesmo cirurgias redutoras de risco — como no emblemático caso da atriz Angelina Jolie. Na oncologia, o uso do perfil genômico do tumor já permite a seleção de terapias-alvo com base em características moleculares específicas, aumentando a eficácia dos tratamentos e reduzindo efeitos colaterais. Cânceres de pulmão, intestino, pele e até infantis vêm sendo tratados com maior precisão graças ao sequenciamento genético.

Mais recentemente, a integração entre Genômica e Inteligência Artificial (IA) vem acelerando ainda mais essa transformação. Algoritmos de aprendizado de máquina analisam em segundos gigantescos volumes de dados genômicos, identificando correlações entre variantes genéticas e doenças, ou prevendo respostas a medicamentos.

Neste sentido, outro avanço prático é a farmacogenômica – estuda como a genética influencia o metabolismo de fármacos. Em vez de prescrever medicamentos por tentativa e erro, médicos podem consultar o perfil genético do paciente para prever eficácia e possíveis efeitos adversos. É o caso de antidepressivos, anticoagulantes como a varfarina, ou analgésicos como a codeína, cuja conversão em morfina depende de enzimas geneticamente variáveis. Além disso, terapias gênicas e tecnologias de edição genética, como a CRISPR-Cas9, já estão sendo aplicadas para corrigir doenças hereditárias como atrofia muscular espinal, anemia falciforme e distrofia muscular de Duchenne – tratando a causa da doença diretamente no DNA. Mesmo doenças raras, que antes levavam anos para serem diagnosticadas, hoje são identificadas mais cedo com o uso do sequenciamento completo do exoma (parte do DNA responsável por formar as proteínas do nosso corpo), beneficiando especialmente crianças com síndromes genéticas complexas.

Neste Dia Mundial do DNA, celebramos não apenas a descoberta de uma molécula, mas uma medicina que deixa de tratar doenças de forma genérica para cuidar de pessoas de forma única.

*Por Osvaldo Artigalás, médico geneticista do Hospital Moinhos de Vento


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