Linhares pede apoio por manutenção de barragem no Rio Pequeno

Comunidade e procuradora-geral do Município foram ouvidos em reunião da CPI da Sonegação nesta quarta (9) que novamente não contou com a presença de diretores da Fundação Renova

Procuradora-geral do Município de Linhares, Nádia Lorenzoni, que foi convocada para depor na CPI da Sonegação, pediu apoio ao colegiado para manter barragem no Rio Pequeno para proteger a principal fonte de captação de água doce do município. A reunião aconteceu nesta quarta-feira (9), no Plenário Dirceu Cardoso, e, mais uma vez, não conseguiu ouvir os diretores da Fundação Renova, que estão amparados de decisão liminar do Tribunal de Justiça, com habeas corpus preventivo.

Procuradora-geral de Linhares, Nádia Lorenzoni. Foto: Ellen Campanharo.

A procuradora geral de Linhares atendeu à convocação da CPI e falou sobre a necessidade da manutenção do barramento do Rio Doce para preservar a fonte de captação de água para o município.

De acordo com Nádia, recentemente o Ministério Público Federal divulgou laudo técnico constatando a presença de metais pesados nas águas do Rio Doce. Por esse motivo, o município do Norte do Estado briga na justiça para manter barragem, construída em 2015, que evita que a lama com rejeitos contaminem rios e lagoas de Linhares.

“Sabemos que aquela obstrução acaba gerando complicações ao meio ambiente. Faz o represamento da água, pode acarretar alagamentos e até proliferação de bactérias. Mas hoje, sem o barramento, é certo que a água contaminada do Rio Doce entrará no Rio Pequeno e avançará para a lagoa Juparanã, já que o rio fica há apenas 800 metros. Mas ressalto que essa fonte de água não é só do município de Linhares, mas de todo estado, e isso causaria verdadeiro estrago irreparável”, lamentou.

Nádia também relatou à comissão que a ação judicial que trata o assunto corre no munícipio de Belo Horizonte, Minas Gerais, e que isso dificulta o verdadeiro acesso à justiça.

“Infelizmente o Tribunal de Justiça do Estado do ES entendeu que a competência seria da Justiça Federal de Minas Gerais, já que o Rio Pequeno faz parte da bacia do Rio Doce e por isso a ação tramita por lá. Esse entendimento acarreta ao município de Linhares os custos de despachar e ter audiência em outro estado, além de complicar o acesso à justiça. Seria muito mais fácil se ação tramitasse em Linhares”, pontuou.

Outra crítica feita pela procuradora foi sobre o difícil relacionamento da prefeitura com os representantes da Fundação Renova, além da falta de transparência em relação à prestação de contas com as ações supostamente desenvolvidas no município de Linhares. De acordo com Nádia, os diretores costumam protelar os acordos e não apresentam documentos que comprovem os investimentos.

“Com eles nada se desenvolve. Sempre falam ‘preciso de mais isso, está faltando aquilo, daqui a pouco dou um retorno’. A mesma linha de tratamento que os pescadores trazem aqui, a prefeitura de Linhares também se queixa. Inclusive, a Fundação Renova apresentou uma prestação de contas que não apresenta nenhum documento comprobatório das despesas que alegam ter tido. Se houve esse tanto de despesas no município de Linhares eu nunca vi um gasto tão mal gasto, porque a gente não vê o resultado”, criticou.

Na ocasião, o presidente do colegiado, deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), elogiou o trabalho da procuradora ao orientar a prefeitura de Linhares a não assinar acordo com a Fundação Renova. Conforme Enivaldo, “a Renova quer dar um golpe de esperteza na prefeitura de Linhares, fazendo com que ela receba uma mixaria abrindo mão dos direitos do município”.

O plenário Dirceu Cardoso mais uma vez estava tomado de pessoas das comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Samarco, principalmente de pescadores do município de Linhares. Representantes falaram das dificuldades que estão tendo para receber as indenizações por parte da Renova e relataram sobre o adoecimento de alguns moradores devido ao contato com a água contaminada.

O morador e comerciante da região de Povoação, Peterson Pontes entregou à CPI um documento sobre o andamento das ações da Fundação Renova. Segundo ele, os 42 programas de compensação e reparação dos danos ambientais causados pela empresa local não estão avançando.

“Essa tragédia impactou o comércio e o turismo local. Mas a Fundação não está cumprindo com a reponsabilidade dela perante os acordos firmados com as comunidades atingidas da foz do Rio Doce: Povoação, Pontal do Ipiranga e Regência”, ressaltou o líder comunitário.

Durante os trabalhos o deputado Marcos Garcia (PV) foi integrado ao colegiado, já que é da região impactada. De acordo com o Garcia ele já acompanhava de perto os trabalhos da CPI, mas agora poderá unir forças ao colegiado.

Deliberações

A nova data para ouvir os oito convocados que não compareceram na reunião, entre eles os diretores da Fundação Renova, será o dia 13 de novembro. Além desses, os diretores da Vale, Samarco e BHP serão convocados para o próximo dia 30. Também ficou confirmada a realização de uma reunião do colegiado no dia 5 de novembro, data que marca os quatro anos do rompimento da barragem da Samarco, em Linhares. O objetivo é dar voz as lideranças da região sobre os prejuízos sofridos.

Por Kissila Mell | Ales.

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