Comarca de Linhares comemora adoção de 32 crianças e adolescentes no último ano

“O contato com os adolescentes foi mágico, quebrou toda a visão que eu tinha daquilo tudo, quando abracei os meus filhos de 16 anos e o outro de 13 anos foi diferente de tudo o que eu vivi na vida”, contou Maria, que adotou quatro irmãos. Foto: Ascom/TJES.

A 1ª Vara da Infância e da Juventude de Linhares realizou a adoção de 32 crianças e adolescentes no último ano. Outros nove processos estão em andamento por pretendentes habilitados. Para a equipe da unidade judiciária, a flexibilidade dos pretendentes na escolha do perfil de crianças e adolescentes, que aceitam grupos de irmãos, crianças mais velhas ou com condições especiais de saúde, foi um fator primordial para o sucesso obtido.

Carlos, atualmente com 17 anos, foi um dos adolescentes que ganhou uma nova família. Ele foi adotado junto com seus três irmãos, hoje com 14, 9 e 6 anos. Ele não se lembra quanto tempo ficou no abrigo, mas contou que já estava trabalhando, pensando em como seria sua vida quando chegasse à maioridade e como faria para que os quatro seguissem juntos na vida, quando algo inesperado aconteceu.

“Já estava pensando lá longe, quando do nada chega uma notícia boa, boa, boa, muito legal mesmo, não consigo nem falar direito, que tinha uma família interessada e queria nos conhecer, aí nós aceitamos. Conhecemos a família. Na primeira vez, o coração já acelerou. Eu falei: ‘é essa família mesmo. Não tem outra!’. Abracei eles, cumprimentei. Nós conversamos e nos conhecemos um pouco. Então, eles pensaram mesmo que iriam ficar com a gente”, disse Carlos.

Depois, a família passou para a fase de convivência, que é um período de adaptação antes da adoção definitiva. “A fase de convivência foi muito legal, não tem como explicar, é coisa de Deus mesmo. Eu nem estava acreditando que ia acontecer isso. Nós fomos nos entendendo, nos encaixando na família. Parece que nascemos dessa mãe mesmo”, confidenciou o irmão mais velho.

A sensação de já fazer parte da mesma família foi compartilhada por Maria, que com as filhas já adultas, e em um novo relacionamento, queria um irmão para o menino que havia adotado aos quatro anos de idade. Ao se reabilitar, ela não colocou restrições, apenas em relação à idade, pensou em adotar uma criança com até 10 anos e aceitaria grupo de até dois irmãos. Mas, quando a assistente social contou a história de quatro irmãos que estavam no abrigo, ela não conseguiu parar de pensar neles.

“Eu contei para o meu esposo a história desses irmãos, ele ficou tão tocado quanto eu, mas a adoção de adolescente era algo muito distante para a gente. Então, não demos muita atenção. Mas, volta e meia conversávamos sobre o assunto. Até que decidimos conhecer os irmãos. Liguei para a assistente social para conhecermos as crianças, comecei a pensar sobre a mudança de idade no processo, e aí fomos conhecer as crianças. Os dois menores já estavam há muito tempo no abrigo, e ficaram muito assustadas e agitadas. Nós estávamos quase desistindo, quando a assistente social voltou a ligar pra gente, para conhecermos os dois maiores, porque viviam em abrigos diferentes por causa da idade. Então, tivemos um contato com os quatro fora do ambiente do abrigo, acompanhados da assistente social”, explicou Maria.

Ela compartilhou como foi o encontro: “O contato com os adolescentes foi mágico, quebrou toda a visão que eu tinha daquilo tudo, quando abracei os meus filhos de 16 anos e o outro de 13 anos foi diferente de tudo o que eu vivi na vida, o abraço era muito mais carente, foi o abraço mais carente que eu já recebi na minha vida, o abraço de quem precisava de colo. A partir daí, foi impossível pensar diferente, eles seriam os nossos filhos, eles eram os nossos filhos. A partir daí a gente fez a aproximação, saiu a guarda provisória das crianças, eles vieram e a gente está tendo uma experiência incrível, vai fazer um ano que a gente está junto, não dá para pensar que eles não nasceram da gente, nenhum deles, não dá para pensar que eles não tenham nascido aqui dentro, a gente brinca, a gente ri, a gente briga, tudo que uma família faz, e uma coisa é certa, a gente não consegue mais ficar um sem o outro, a gente sente falta e hoje com os nossos 5 filhos do coração e mais 5 de sangue (Maria tem três filhas biológicas e o esposo têm dois), a gente é uma família extensa e muito feliz”.

Alex, o filho de 14 anos, concorda e aconselha: “Para vocês que querem adotar, não tenham medo de adotar adolescente, criança ou pré-adolescente, tanto faz. Porque para ser um filho seu, você tem que dar amor, tem que dar carinho, tem que conhecer. Não tenha medo de adotar adolescentes, porque tem muitos adolescentes que são bons, que são muito legais, que não tem o carinho de um pai, de uma mãe, de um irmão, ou de um tio ou uma avó, não sei. Não tenha medo de adotar um adolescente, porque você adotando uma criança, essa criança vai ficar adolescente”.

“Graças a Deus aconteceu essa coisa maravilhosa com nosso grupo de irmãos. Estou grato hoje, estou muito feliz, nos adaptamos muito bem, é só alegria, carinho, amor, compaixão, felicidade, união, caráter. Espero que tenha tocado seus corações!”, completou Alex.

A 1ª adoção

A história da família começou ainda em 2015, quando Maria e seu esposo, ela com três filhas e ele com um casal de filhos de relacionamentos anteriores, resolveram ter uma criança. Inicialmente, pensaram em fazer tratamento de fertilização, mas, Maria, que tinha um sonho antigo de adotar uma criança, pensou em seguir por este caminho e iniciou o processo de adoção.

“O meu processo, como era muito aberto, sem restrições, foi muito rápido. A assistente social me ligou falando de um menino de quatro anos, que tinha um problema sério de saúde e precisava fazer um tratamento de leucemia. Por mais que eu não tivesse colocado restrições, pra mim foi um choque. Eu conversei com o meu esposo, e a gente não sabia nem por onde começar, mas, jamais os nossos corações permitiriam uma rejeição nesse momento. Então, decidimos conhecer a criança”, contou.

Ele fazia tratamento de 20 em 20 dias, e a rotina da família virou de cabeça para baixo. Maria deixou seu negócio para cuidar de João e passou a se dedicar totalmente aos cuidados com a criança.

Depois dessa experiência, Maria descobriu que o amor é uma coisa que se constrói dia após dia. “O dia que ele teve uma intercorrência, numa quimioterapia, foi quando eu descobri que eu amava o meu filho, foi o dia que eu descobri que eu tinha o sentimento de mãe por ele. Que eu pedi, Deus, deixa eu ver o meu filho crescer. A partir daí, a doença estabilizou e o João começou a ter melhora, melhora, melhora. E com 7 meses que ele estava com a gente foi suspensa a quimioterapia, foi muito rápida a estabilização da doença após a adoção, foi visível, que o amor é capaz de curar. Então, o João teve uma melhora muito brusca e uma recuperação rápida e a gente ficou muito feliz, e começou a experimentar um amor que a gente esperava que fosse intenso, mas a gente não sabia como seria o amor de um filho adotivo, é maravilhoso, filho é filho”, compartilhou Maria.

Carlos, o irmão de 17 anos, que chegou depois de João, falou da felicidade de ter João como irmão. “Já tinha uma criança, antes de nós. Ele nos adora e nós adoramos ele. É muita felicidade, amor, carinho, compaixão. A história e a vida de todo mundo muda. Não tenho palavras para falar. Estou muito emocionado. Eu nem acreditava e hoje eu estou aqui com meus três irmãos, mais um que eles adotaram, e 3 meninas da nossa mãe, e mais 2 filhos do nosso pai. Muito amor, carinho e felicidade por eles!”

O trabalho da Vara da Infância

A equipe da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Linhares acredita que o fato de ser uma Vara especializada contribui para a celeridade nos processos de destituição do poder familiar, habilitação e adoção. Além disso, as assistentes sociais Marcela Silveira e Alzirene D’Assunção e a psicóloga Julieny Trinxet acreditam que a flexibilidade dos pretendentes na escolha do perfil da criança e adolescente a ser adotado contribui para o aumento do número de adoções.

“Isso se deve ao trabalho de constante sensibilização dos pretendentes à adoção, aproximando o desejo do filho esperado com o filho real. Outro ponto a ser destacado é o trabalho de todos os servidores e estagiários desta Vara, em parceria com o Ministério Publico e a Defensoria Pública do Estado, voltado para um atendimento prioritário nos processos dessa natureza”, explicaram as servidoras.

Para o juiz Gideon Drescher, “A instalação da 2ª Vara da Infância e Juventude de Linhares foi essencial para dar celeridade, dinamismo e efetividade às ações de natureza protetiva, que são de competência da 1ª Vara da Infância e Juventude. O cumprimento de metas passou a ser algo factível e buscado permanentemente, vez que não se trata de um mero número, mas da possibilidade de mudar a história de uma criança ou adolescente em situação de vulnerabilidade. Desde a separação das varas de infância de Linhares, ocorrida em outubro de 2015, concluiu-se a adoção de 120 crianças/adolescentes. De dezembro de 2018 a novembro de 2019, 32 crianças/adolescentes tiveram suas adoções concluídas. Pela primeira vez, as adoções por pretendentes previamente habilitados pelas varas de infância superou os demais tipos de adoção (prontas, unilaterais, por família extensa), chegando a 17, havendo ainda outras 9 crianças/ adolescentes em período de estágio de convivência com casais habilitados”.

Texto: Elza Silva | TJES.

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