Pesquisa desenvolve batatas-doces coloridas e biofortificadas

As batatas-doces coloridas e biofortificadas desenvolvidas pela Embrapa, atendem não somente os agricultores, mas também os consumidores que, cada dia mais, têm buscado uma dieta diversificada e saudável, com base em alimentos funcionais | Fotos: Paula Rodrigues

Três novas cultivares de batata-doce, desenvolvidas por pesquisadores da Embrapa Hortaliças (DF), prometem colocar mais cores e nutrientes na dieta dos brasileiros. Em vez da casca rosada e da polpa de cor creme das variedades tradicionalmente plantadas e consumidas no País, as novas cultivares destacam-se pelos tons de roxo e de laranja, que são indicativos do alto teor de compostos bioativos benéficos para a saúde como as antocianinas e o betacaroteno, respectivamente.

Duas das novas cultivares possuem a casca e a polpa roxas e diferenciam-se quanto à destinação: a batata-doce BRS Cotinga é recomendada para processamento industrial na forma de chips, farinha, xarope de amido e outros produtos derivados, e a batata-doce BRS Anembé para o mercado de mesa, em preparos culinários assados como purês, doces caseiros e pães. Já a batata-doce CIP BRS Nuti, desenvolvida em parceria com o Centro Internacional de la Papa (CIP) do Peru, tem casca e polpa alaranjadas e possui dupla aptidão, podendo atender ambas as finalidades.

Segundo a pesquisadora Larissa Vendrame, coordenadora do programa de melhoramento genético de batata-doce da Embrapa, atualmente, essa cadeia produtiva carece de oferta de cultivares de polpa colorida com alto teor nutritivo, e os poucos materiais disponíveis aos agricultores têm limitação geográfica para o plantio, além de baixa estabilidade de produção e pouca qualidade de raízes. “Por isso, as novas cultivares disponibilizadas pela pesquisa pública brasileira atendem a uma demanda do setor produtivo, entregando maiores índices de produtividade, melhor qualidade, resistência a doenças, estabilidade de produção e ampla adaptação às diferentes regiões de cultivo do País”, enumera.

Mais cor para mais saúde

As batatas-doces coloridas e biofortificadas desenvolvidas pela Embrapa, atendem não somente os agricultores, mas também os consumidores que, cada dia mais, têm buscado uma dieta diversificada e saudável, com base em alimentos funcionais. Além disso, a batata-doce é um alimento que está entre as principais fontes de carboidratos complexos e de baixa caloria da dieta do brasileiro.

A coloração arroxeada das batatas-doces BRS Cotinga e BRS Anembé (foto abaixo) deriva do alto teor de antocianinas, que são pigmentos naturais responsáveis pelos tons de azul, roxo e vermelho em alimentos como frutas, raízes e folhas. As antocianinas e demais compostos fenólicos presentes na batata-doce de polpa roxa são substâncias bioativas associadas à redução do risco de doenças degenerativas, uma vez que possuem ação antioxidante e anti-inflamatória no organismo.

As cultivares BRS Cotinga e BRS Anembé apresentam, respectivamente, teores de 154 mg/100g e 184,8 mg/100g de antocianinas, que são valores semelhantes aos encontrados em frutas de cor arroxeada. “A produção de batata-doce de polpa roxa vem ganhando espaço, o que é uma vantagem para os agricultores – visto que essa cultura apresenta ampla adaptação em todo o território brasileiro e um elevado rendimento de raízes por área, bem como para os consumidores, pois a batata-doce roxa tem um preço mais acessível do que outras fontes importantes de antocianinas como uva, amora, açaí e mirtilo”, compara o agrônomo Raphael Melo, pesquisador da área de Fitotecnia da Embrapa Hortaliças.

O produtor rural Flávio Roberto Marchesin, de São Carlos (SP), que participou da etapa de validação das cultivares BRS Anembé e BRS Cotinga, aposta no apelo da cor e do valor nutricional para obter maior valor agregado na comercialização. “São detalhes que chamam atenção dos consumidores”, opina.

Já o betacaroteno, presente na batata-doce CIP BRS Nuti (foto acima), é o pigmento natural associado às cores laranja e amarela nos alimentos, que funciona como um precursor de vitamina A, ou seja, se transforma em vitamina A no organismo, uma substância muito importante para a saúde, já que previne distúrbios oculares e doenças da pele, auxilia no crescimento e no desenvolvimento e fortalece a defesa do corpo contra infecções. Também age como antioxidante, ou seja, combate os radicais livres que aceleram o envelhecimento e ocasionam diversas doenças.

Enquanto em variedades de polpa branca ou creme, a concentração de betacaroteno é irrisória, na cultivar CIP BRS Nuti, o teor de betacaroteno pode alcançar 150 mg/kg, sendo superior à outra cultivar de batata-doce recomendada pela Embrapa, a batata-doce Beauregard, que atinge 115 mg/kg. “A batata-doce CIP BRS Nuti não pretende substituir a cultivar Beauregard, mas sim ofertar mais opções de raízes de polpa alaranjada aos produtores. Ela tem a parte aérea mais robusta e vigorosa, o que facilita o plantio, o pegamento das mudas e o controle de plantas daninhas”, elucida o pesquisador da Embrapa Alexandre Mello, responsável pelo processo de seleção e caracterização da cultivar nas condições brasileiras.

A produtora rural Lucy Mara Rocha, com propriedade sediada em Pirapozinho/SP, atua há dez anos no mercado de batata-doce e participou dos experimentos de validação da cultivar CIP BRS Nuti. Em sua opinião, os principais diferenciais em relação à cultivar Beauregard, que ela também produz, são: padronização das raízes – que são mais lisas, coloração intensa da polpa, maior vida útil após a colheita e maior resistência a insetos sugadores.

“Meu grande desejo é que as batatas-doces coloridas sejam comercializadas em maior quantidade para o consumidor final, muito embora isso seja uma questão cultural do mercado brasileiro, que prefere as raízes de polpa branca. Nos Estados Unidos, por exemplo, a predominância é da batata-doce alaranjada. Mas eu acredito que as batatas-doces coloridas irão ganhar escala no consumo nacional a partir do trabalho da pesquisa, dos produtores e da divulgação para alcançar novos públicos”, projeta.

Por Paula Rodrigues


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