Planta desenvolvida em Minas Gerais necessita de pouca aplicação de defensivos e surpreende com a qualidade dos grãos.
O café arara é uma variedade que está se espalhando pelos campos do Brasil. Produtivo e resistente às principais doenças da cultura, a variedade é resultado de um trabalho persistente de pesquisa.
Quando pensamos em um pé de café carregado de frutos, normalmente a imagem que vem à cabeça são grãos vermelhos. Mas, no caso desta variedade, os frutos são amarelos. Por causa da cor, este café ganhou o nome de arara.
“Na realidade, é só a cor da casca [que muda], dentro é a mesma coisa. Quando a gente cruzou [o arara] com o [café] icatu, a gente combinou resistência e vigor com a produtividade. Isso que a gente busca nesse melhoramento genético do café”, explica o pesquisador José Braz Matiello, responsável pelo desenvolvimento da planta.
Só este ano, a Fundação Procafé, onde Matiello trabalha, já forneceu sementes para produção de 40 milhões de mudas de café arara.
A variedade é considerada um café de porte baixo, o que facilita a colheita. Marco Evandro Manoel é administrador de uma fazenda em Alfenas, sul de Minas Gerais, que conta com 28 hectares do arara. Ele diz que o tamanho da planta torna a retirada dos grãos mais efetiva.
“É uma variedade fácil para colher, rende muito na colheita manual. Uma média por dia de 720 litros por pessoa, quando a média para outras variedades é de 400 a 600 litros”, conta o administrador.
O café arara se adapta a diversas condições climáticas. De Alfenas, a 800 metros de altitude, em um clima mais quente, até o município de Botelhos, com cerca de 1100 metros de altitude, a variedade demonstra bons resultados.
Na propriedade onde o agrônomo Lucas Antônio Franco é gerente, 20% de uma área de 160 hectares têm o café arara. Ele lembra que, na hora de renovar os pés, a busca era por cultivares mais produtivas e resistentes. Durante a procura, o agrônomo encontrou a variedade.
“A gente viu que ele se destacava entre dos outros materiais, principalmente em vigor e produtividade. Logo que a gente teve a primeira colheita, tivemos outra surpresa: ele superou em qualidade todas as lavouras”, afirma Franco.
Segundo Matiello, a Fundação Procafé fez testes em 19 campos, espalhados por Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná, para comparar o desempenho do café arara em relação ao catuaí, a variedade mais cultivada hoje no Brasil.
“Nessas 19 áreas, deu 54 sacas de produtividade média contra 40 do catuaí. São 35% a mais. É bem representativo”, destaca o pesquisador.
Resistência a doenças e menos aplicações
Um dos fatores que impulsionam a produtividade do arara é a sua resistência a doenças. Segundo o pesquisador da Procafé, a variedade é praticamente imune à ferrugem, que é a principal doença da cultura, além de ter bom desempenho contra as bactérias pseudomonas e tolerância à phoma, outros dois grandes problemas do café.
A resistência da variedade levou a uma outra aposta na fazenda onde Lucas Antônio Franco é gerente. Como o café arara precisa de menos aplicações de defensivos, eles decidiram apostar no cultivo orgânico, que começou em 5 hectares e hoje estão em 22. Graças à boa produtividade, já existem planos de aumentar essa área em mais 24 hectares.
“Com o arara a gente consegue os mesmo patamares do cultivo convencional. Mesma produtividade de um café de sequeiro, foi uma surpresa muito grande”, conta Franco.
Quando o café dispensa defensivos, ganha valor de mercado. O gerente afirma que consegue vender a saca do arara pelo dobro do preço de uma variedade convencional.
O trabalhador rural Sidnei Milani diz que o café arara tem uma qualidade melhor que outras variedades, oferecendo uma renda maior ao agricultor.
“O peso é diferente porque os outros [tipos de café] são mais leves até na hora de colher. Esse é um grão maior, bem graúdo e de boa qualidade. Dá uma renda boa por saca”, afirma Milani.
A única dificuldade apontada por Franco é no momento da colheita.
“Como ele amadurece tarde, se a gente vem colher o grão maduro, ele ainda tá bem duro para sair da planta. Tem que fazer com os frutos totalmente maduros”, explica.
Boa qualidade
O classificador e degustador de café Nivaldo Lúcio Figueiredo fez um teste com a peneira 16, considerada alta, e apenas 2,3% dos grãos do arara passaram. No caso do catauí, esse índice ficou em 18,8%.
“Os grandes torrefadores [empresas] preferem de peneiras 16 para cima para fazer o café torrado em grãos. Visualmente é muito mais bonito. Essa classificação de peneiras influencia no preço do produto final, tem melhor o valor agregado”, afirma Figueiredo.
A qualidade do café arara não se restringe apenas ao tamanho dos grãos. O classificador conta que a bebida tem ótimo sabor e vem sendo premiada, com notas acima de 90 pontos em uma escala de 100 pontos.
“Esse café tem nos surpreendido nos últimos anos. A gente tem conseguido alcançar alguns prêmios nacionais e internacionais”, diz.
Como comprar sementes do café arara:
Para comprar sementes ou tirar dúvidas sobre o café arara, é possível pode enviar um e-mail para contato@funcacaoprocafe.com.br ou ligar para (35) 3214-1411.
Por Globo Rural.