A emoção bateu forte na manhã deste 04 de dezembro no Pelourinho. A última vez em que a multidão de devotos formou o tapete vermelho e branco tradicional do Dia de Santa Bárbara havia sido em 2019, antes da pandemia. Após ter acontecido de forma restrita nos últimos dois anos, a festa da padroeira dos bombeiros e dos mercados retomou a tradição neste domingo, e a Missa Campal no largo acalentou os milhares de corações que se encontravam ali saudosos deste momento, e também gratos à Rainha dos raios pela proteção durante os tempos tempestuosos vividos.
A Igreja do Rosário dos Pretos, que desempenha um papel fundamental na manutenção da festa e é sua correalizadora junto ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, conduziu a Missa Campal, ministrada pelo Padre Lázaro Muniz. “Disseram que não estaríamos aqui este ano, mas aqui estamos”, comemorou o sacerdote, fazendo todos os presentes vibrarem. Suas palavras versaram sobre inclusão, justiça, amor e paz. Termos que em tudo se conectam com a Festa de Santa Bárbara.
Presente na celebração, a secretária de cultura da Bahia, Arany Santana, destacou que o evento está diretamente relacionado com as políticas estaduais de patrimônio. “A festa de Santa Bárbara é uma manifestação tradicional, que abre o calendário de festas populares da Bahia, e que o Estado por dever e responsabilidade com a preservação do patrimônio apoia e abraça. Para além da posição de uma gestora que sente-se feliz com o resultado entregue, enquanto uma devota de Santa Bárbara eu estou muito emocionada. Aguardamos demais pelo momento em que voltasse a ser possível uma reunião das proporções que vimos hoje, e que representa o que de fato é a Festa de Santa Bárbara. Uma celebração do povo e para o povo, que ao longo de séculos passa de geração a geração uma fé e uma tradição que se mantêm vivas, e que carregam tantos traços da nossa história, costumes e identidade”. A Festa de Santa Bárbara é Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia, reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural desde 2008, por agregar valores culturais singulares e dar destaque às celebrações da fé católica e das religiões de matriz africana.
Adilson Guedes, 57 anos, devoto desde criança, quando era levado para a festa pela mãe, que hoje não pode mais participar presencialmente, chamava atenção portando durante toda a festa um estandarte confeccionado por ele próprio com material reciclado, representando a coroa de Santa Bárbara, carregando os dizeres “Salve Santa Bárbara” e “Santa Bárbara, nos proteja contra a Covid-19”. “Neste dia especial, 04 de dezembro, todo ano estou aqui homenageando à nossa Santa Bárbara. Não deixei de participar nos últimos dois anos das missas com acesso restrito mediante agendamento. Esse estandarte eu criei pedindo a proteção pelo fim da Covid e para abrilhantar até mais as festas. Nesse momento a gente tem que fortalecer a fé”, explica Adilson.
A festa de Santa Bárbara tem as suas raízes fincadas nas tradições populares. No sincretismo com as matrizes africanas é também a ocasião de saudar a Iansã, Orixá dos ventos e tempestades. Na tradição católica, um trovão soou e um relâmpago caiu na hora da morte da Santa. Iansã, também chamada de Oyá, costuma ser saudada pelos trovões. Ambas as personalidades costumam servir de espelho para mulheres guerreiras e valentes, e causam identificação com um povo que se apega a sua fé em meio a tempestades, e que mantém viva esta tradição secular. Em meio aos presentes, se escutam expressões como “Eparrei!” e “Amém!” em um espírito que vai para além da tolerância, mas sim do amor e da comunhão.
A festividade é apoiada pelo Centro de Culturas Populares e Identitárias da SecultBA, que além da missa campal também é parceira na programação artística tradicionalmente enraizada no samba, em todos os largos do Pelourinho após a celebração religiosa. “Para além da nossa satisfação, é nosso papel enquanto parte da SecultBA permanecer abrigando esse movimento democrático das nossas festividades, especialmente Santa Barbara que se trata de um evento patrimonializado. Estamos muito felizes com a participação do público após estes dois anos. Preparamos todos os nossos largos para esta data. Juntos realizamos uma bela festa e que já prenuncia o início do verão”, conta Verônica Nonato, diretora do CCPI, adiantando que as atrações artísticas desta tarde já são uma prévia da movimentada programação do Pelô da Bahia durante a estação mais quente do ano.
Da Redação | Com Informações da Ascom – SecultBA
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