Grupo Pão da Terra: união que faz a força e produz alimentos saudáveis

O ponto de comercialização e a experiência dos agricultores receberam a visita do projeto HorizontES em Extensão. Foto: Incaper.

Com as portas de vidro bem abertas e um sorriso ainda mais escancarado, produtores de Jaguaré, no norte do Espírito Santo, oferecem saúde a quem chegar. A loja do grupo Pão da Terra, no Centro do município, reúne mais de 50 itens produzidos por 27 famílias que adotam práticas orgânicas e agroecológicas de produção.

O ponto de comercialização e a experiência dos agricultores receberam a visita do projeto HorizontES em Extensão. A comitiva, capitaneada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), levou ao município representantes do Incaper, da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), das Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa) e da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes). Equipes da Prefeitura de Jaguaré também estiveram presentes.

Durante a visita, os agricultores apresentaram um pouco da história do Pão da Terra. “A lojinha é resultado, mas para chegar até o resultado, tem que lutar. Nós, agricultores, já tínhamos mercado: entregávamos nas casas das pessoas. Mas por que não ter um local próprio, para agregar valor aos produtos da agricultura familiar? Foi quando fizemos a primeira reunião, com um técnico do Incaper e três agricultores”, lembrou-se o agricultor e presidente da associação de produtores Pão da Terra, Francisco Sales Saiter.

Além de contribuir na disponibilização de alimentos saudáveis e de qualidade, a lojinha tem por objetivos agregar valor à produção, proporcionar a diversificação de atividades e incentivar o espírito de cooperativismo. O Incaper ofereceu visitas técnicas a experiências semelhantes em outros municípios, envolveu parceiros na capacitação dos agricultores e contribuiu na organização do empreendimento, mas com apenas um ano de funcionamento, a loja fechou as portas. “Veio a crise. Nós mudamos de lugar, as vendas caíram, houve redução na produção… e agora, José? A loja fechou, o dinheiro acabou e a dívida ficou. Mas o sonho continuou”, parafraseou o agricultor.

Novamente os produtores procuraram o Incaper e a loja foi reinaugurada. O diferencial: o reconhecimento do poder público municipal e a formalização da instituição, com elaboração do estatuto, visita às propriedades, entre outras atividades.

“A Pão da Terra nasceu com esse espírito de juntar forças, produzir com sustentabilidade, resgatar a produção de alimentos saudáveis, resgatar a maneira de lidar com a terra. O agricultor custa a aprender e, depois que aprende, é difícil mudar a cabeça dele”, disse o agricultor Aristeu Nardi.

Eloquente, Nardi destacou ainda a importância das ações integradas de pesquisa, assistência técnica e extensão rural para o desenvolvimento da agroecologia e da agricultura orgânica no Espírito Santo. “A agricultura era completamente diferente e foi transformada graças às pesquisas que o Incaper desenvolveu. Muita gente desistiu da agricultura, ou passou a usar somente agroquímico, ficou dependente dos insumos. Eu sofri crítica e até zombaria, porque falar de agroecologia naquele tempo era falar que a gente não gostava do progresso, que a gente era atrasado. Mas aconteceu lá atrás o que está acontecendo hoje aqui com o HorizontES: agricultores, técnicos, governo, escola e outras instituições de mãos dadas para fazer agroecologia”, disse o agricultor, cuja propriedade possui certificação orgânica desde 2002.

Professor e cliente da loja, Damião diz que consome os produtos e colabora. “Falando como professor: a experiência contribui na formação campo-escola por meio da pedagogia da alternância. Como consumidor, digo que a agroecologia é uma forma de vida. Vale lembrar que essa labuta não é de hoje. Se o trabalhador não arregaçasse as mangas, o comercio de Jaguaré não tinha ido à frente. Quem sustenta tudo isso são os trabalhadores do campo. São eles que contribuem para o desenvolvimento da região e do país”.

Poema

Agricultores, representantes dos poderes públicos municipais, de empresas privadas, e estudantes da Escola Família Agrícola (EFA) de Jaguaré organizaram uma reunião para recepcionar a comitiva do projeto HorizontES em Extensão.

“Se minha roça está bonita, é graças ao trabalho do Incaper”, orgulhou-se o agricultor Valdecir. E assim, entre argumentos técnicos, depoimentos e testemunhos de agricultores, a organização preparou um momento de valorização do Incaper, uma aluna da EFA de Jaguaré recitou um poema escrito por Domingos de Jesus, servidor do Instituto:

“(…) O Incaper é um Instituto bastante renomado. Sua história é a prova de que jamais poderá ser sucateado.

Na agropecuária do Estado sua contribuição dispensa comentário. Pois mostrou e mostra que suas ações foram determinantes para o desenvolvimento rural sustentável.

Já está comprovado que a pesquisa e a extensão não podem ter divisão. Porque o resultado desta fusão contribuiu para que o agricultor e a agricultora triplicassem sua produção.

A ação do extensionista vai além de executar as atividades do dia a dia. Dialoga com os agricultores assuntos da economia sociologia ecologia e por quê não da filosofia?

Na interação com homens e mulheres do campo é necessária muita preocupação. Como já dizia Paulo Freire, a extensão rural não deve estar na contramão.

O resultado do trabalho do Incaper é difícil de ser mensurado. Mas uma coisa eu tenho certeza: contribuiu para que os agricultores fiquem mais empoderados.

O extensionista pró-ativo precisa prestar bastante atenção. Pois na sua região ele é um formador de opinião.

A terra que nos dá a vida já está em agonia. É necessário urgentemente que se fortaleça e amplie as ações de agroecologia, para que as futuras gerações não sofram com a irresponsabilidade do dia a dia (…)”.

Texto: Juliana Esteves.

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