Em meio à pandemia do novo coronavírus, Bolsonaro demite Mandetta

O presidente Jair Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após divergências no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus no Brasil.

A  decisão foi tomada na tarde desta quinta-feira (16) após uma reunião entre os dois, no Palácio do Planalto, e confirmada por Mandetta em sua rede social.

Desde o início da crise, o desgaste da relação do dois aumentou e tornou-se insustentável a permanência do ministro no governo, com troca de farpas em público e orientações contraditórias à população.

A principal discordância entre Bolsonaro e Mandetta era na adoção do isolamento social para controlar a propagação do coronavírus. Enquanto o presidente é a favor de um isolamento vertical, no qual apenas as pessoas que fazem parte do grupo de risco da Covid-19 ficam em casa, o ministro seguia as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) a apoiava medidas de distanciamento social mais amplas.

No último domingo (12), Mandetta cobrou um discurso unificado do governo durante entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

“Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única, uma fala unificada. Isso leva para o brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente, quem é que ele escuta”, disse.

Mandetta também fez questão de criticar pessoas que estejam afrouxando as regras de isolamento e mencionou pessoas que frequentam “padarias”, em uma indireta a Bolsonaro. 

“Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercado, fazendo filas uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada”, afirmou o ex-ministro da Saúde na entrevista.

Dias antes, o presidente havia contrariado as medidas de isolamento social ao sair para cumprimentar apoiadores em Brasília. Um dos locais visitados por Bolsonaro foi uma padaria. Além disso, outra cena que chamou atenção foi quando o presidente, na última sexta-feira (10), esfregou o nariz e deu a mão a uma mulher na sequência, mais um ato que vai contra as recomendações sanitárias em tempos de pandemia.

Outro ponto de divergência entre os dois era em relação ao uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. O medicamento é amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, o Ministério da Saúde alerta para a utilização indiscriminada do medicamento, sem acompanhamento médico, já que a cloroquina causa efeitos colaterais. “Ou se baseia na ciência ou fica no ‘eu acho’”, declarou Mandetta em entrevista coletiva na quarta-feira (15).

Início da crise

No início da pandemia do coronavírus, o presidente se queixou ao ministro de que ele deveria defender mais o governo e o repreendeu por ter participado de uma entrevista ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro.

Mandetta até chegou a mudar o discurso, pregando a importância de a atividade econômica não parar. Porém, ele não se dobrou à pressão do presidente contra a medida de isolamento social, o que iniciou o embate entre ambos.

Ameaça de demissão

A primeira ameaça de “usar a caneta” veio no dia 5 de abril. Sem citar o nome de Mandetta, o presidente Jair Bolsonaro disse que integrantes de seu governo “viraram estrelas” e que a hora deles vai chegar.

“Algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona”, afirmou Bolsonaro a apoiadores que se aglomeravam diante do Palácio da Alvorada.

Antes, em entrevista à Rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que “falta humildade” a Mandetta e que “nenhum ministro é indemissível”.

“Olha, o Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento ele extrapolou”, afirmou.

Ministros militares foram responsáveis por demover Bolsonaro da ideia de exonerar o titular da pasta da Saúde. O conselho era para que ele fizesse uma mudança apenas em junho, ao término estimado da fase mais aguda da pandemia do coronavírus.

Além do receio de que uma demissão transforme Mandetta em um mártir, Bolsonaro teme também a reação dentro de sua própria base de apoio.

Pesquisa Datafolha divulgada no início do mês mostrou que a aprovação do Ministério da Saúde no combate ao coronavírus subiu e já é mais que o dobro da do presidente da República. A atuação da pasta passou de 55% em março para 76% em abril. Já a aprovação do presidente passou de 35% para 33%.

Com a atitude do ministro da Saúde de aumentar o confronto com Jair Bolsonaro, principalmente após a entrevista ao Fantástico, a cúpula militar do Palácio do Planalto estimulou o presidente a intensificar a estratégia para forçá-lo a pedir demissão do cargo.

Mandetta, no entanto, avisou que só sairia demitido ou doente.

Por Ana Paula Ramos | Yahoo Notícias

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