Brasil é campeão em transtorno de ansiedade

Segundo Silva, doenças mentais estão entre as 5 das 10 causas de afastamento do trabalho | Foto: Ellen Campanharo

O médico psiquiatra, professor e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal), Antônio Geraldo da Silva, revelou que quatro entre dez pessoas têm ou vão ter algum problema de transtorno mental durante sua vida. Silva participou, na tarde desta quarta-feira (8), de reunião virtual da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental, da Assembleia Legislativa do Espírito Santo.

Segundo o presidente da Apal, os brasileiros são campeões mundiais em transtornos de ansiedade e o País ocupa o segundo lugar nos vários tipos de depressão. Cinco das dez causas de afastamento do trabalho são por doenças mentais. “É um número assustador. Não imaginamos nunca que nós teríamos esses números”, afirmou.

Na reunião, o psiquiatra apresentou o painel sobre a história das políticas de saúde metal e a correlação com o estigma social e a psicofobia (preconceito contra as pessoas que apresentam transtornos e/ou deficiências mentais). 

Pandemia e doença mental

Para ele, uma das consequências da pandemia da Covid-19 é o aumento da depressão e do suicídio. Por isso, ele defendeu a instalação de laboratórios de campanha para atendimento emergencial. “Os suicídios vão aumentar. Só se suicida quem tem doença metal, não é de graça”, enfatizou.

Hoje, há no mundo 720 milhões de pessoas com algum tipo de doença mental, o que corresponde a 10% da população mundial, de acordo com o painel exibido por Silva. Para ele, isso acarreta o estigma, o preconceito sobre o doente e também contra o profissional: 

“Preconceito contra nós que fazemos tratamento daqueles que padecem de doenças mentais. Nós psiquiatras, psicólogos somos chamados de doidos ou que tratamos de doidos”, disse. “É a psicofobia, que impede o tratamento adequado, alertou.

O psiquiatra recomendou medidas no estado contra a psicofobia, como a criação do Dia Estadual contra a Psicofobia, e informou que há um projeto nesse sentido tramitando no Congresso Nacional. 

Manicômios

Antônio Geraldo da Silva falou também sobre o fechamento dos hospitais psiquiátricos no Brasil: segundo ele, “precisávamos qualificar os serviços”, e não simplesmente fechá-los. 

O médico elogiou a ação, nos anos 80 do século XX, do governo do estado de São Paulo,  que reformou e reformulou o Instituto de Psiquiatria das Clínicas, hoje é um dos mais importantes do mundo, de acordo com ele. “Tornou-se uma referência de ensino, pesquisa e atendimento. Tem até terapia com animais”, afirmou.

Segundo levantamento apresentado pelo psiquiatra, em 2007, havia 22 milhões de pessoas precisando de atendimento entre transtornos depressivos e ansiedade e 11 milhões de alcoólatras. Por outro lado, houve a redução dos leitos de 120 mil em 1989 para menos de 40 mil em 2006.

Para Silva, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) não resolvem o problema de atendimento clínico porque a maioria deles, afirmou, não tem médicos psiquiátricos e, quando tem, não é todos os dias. “Só tem aqui e em nenhum outro lugar do mundo. Por quê? O Caps não provou eficiência, eficácia e efetividade”, avaliou.

Centro de atenção

O presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes), psiquiatra e professor da Ufes Valdir Campos relatou que ele é um dos responsáveis pela implementação dos Caps em Minas. Ele atuava à época na subárea da psiquiatria de álcool e drogas, em Minas. 

Campos treinou toda a equipe, desde o programa de estratégia de saúde da família, passando pelo Samu, e implantou uma dinâmica e protocolo de atendimento na rede de atenção em Belo Horizonte. Segundo o professor da Ufes, foi em Belo Horizonte que teve início esse novo modelo de atendimento, “o berço de toda essa mudança na Psiquiatria”. 

Por isso, garante, “posso falar com muita propriedade sobre o assunto. Inclusive, no meu primeiro emprego, eu criei o primeiro centro de atenção à saúde, que até então não tinha o nome de Caps, em Betim, onde foi o núcleo de todo o processo de implementação que substituiu os manicômios, principalmente na área de álcool e drogas”, relatou. 

Em sua opinião, o atendimento no Espírito Santo é muito precário. “Espero poder contribuir muito para essa iniciativa do deputado Mameri”, pois, por meio de sua atividade como professor, tem constatado “o quanto é precário o serviço de assistência em nosso estado”, concluiu.

Frente parlamentar

O presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental, deputado Dr. Emílio Mameri (PSDB), apresentou a motivação para criar o colegiado, ideia que vem desde o início do mandato. 

“Recebi várias demandas relacionadas ao tema das doenças mentais. No início do mandato, propus ao governo a criação de uma câmara de mediação e lá me deparei com os inúmeros pedidos de internação judicializada. Recebemos a informação de que um dos maiores gargalos relacionados com a judicialização é referente às demandas da saúde mental”, disse Mameri. Para ele, essa área carece de apoio e amparo da Assembleia Legislativa. 

O deputado Coronel Alexandre Quintino (PSL), secretário-executivo da frente, manifesta sua gratificação em participar do colegiado e disse que tem recebido demandas de todo o sistema de segurança pública. Destacou que os problemas de saúde mental atingem funcionários da área e da Polícia Militar e Civil.  “Nós tivemos nos anos de 2017, 2018 e 2019 um alto número de suicídios por integrantes da força de segurança”, informou. 

Por Aldo Aldesco 


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