Deputados repudiam ato na casa da mãe do governador

Bruno Lamas solicitou que Assembleia emita nota de repúdio contra manifestação do último domingo | Fotos: Ellen Campanharo

Alguns deputados ocuparam a tribuna durante a sessão ordinária híbrida desta segunda-feira (15) para protestar com veemência contra uma manifestação que ocorreu no domingo (14) em frente à residência de dona Anna Venturim Casagrande, de 88 anos, mãe do governador Renato Casagrande (PSB). Os parlamentares condenaram o ato realizado em Vitória e propuseram uma nota de repúdio da Assembleia Legislativa (Ales).

A proposta de nota pública partiu do deputado Bruno Lamas (PSB), que alertou para a necessidade de resposta porque, segundo ele, o fato pode acontecer contra a mãe de qualquer pessoa. “Nós respeitamos a liberdade de expressão, o patriotismo. Achamos legal que as pessoas peguem a bandeira do Brasil e defendam a pátria”, ponderou.

Entretanto, o deputado considerou que a manifestação partiu de uma minoria. “A maioria das pessoas que estavam nas ruas ontem não estavam com esse objetivo. Estou propondo uma nota de repúdio pelo crime praticado ontem. Hoje, é a mãe do Sr. governador, mas pode ser na porta da mãe de qualquer um de nós, de qualquer capixaba. Se fosse contra a mãe de um deputado, hoje, todos nós estaríamos aqui unidos repudiando tal ato”, avaliou Lamas.

Direito a manifestação

Já a deputada Iriny Lopes (PT) considerou que, apesar da legalidade da manifestação, o ato não pode ultrapassar o limite da pessoa pública. “Não é proibida manifestação. Quem não gosta de manifestação contra si é o presidente (Jair Bolsonaro), mentor daquele grupo que esteve na rua ontem. Eu nasci na luta de rua e vou continuar na luta de rua até o final de minha militância. Porém, a gente vai pra porta do Palácio quando a gente quer protestar contra o governador. Não há em lugar nenhum espaço para ir à porta do cidadão Renato Casagrande. Isso não é legal do ponto de vista da lei”, contestou.

A petista também protestou contra o ato ter sido contra a mãe do governador e lamentou a atitude de um de seus colegas de Parlamento. “É muito lamentável a presença e o incitamento de um dos membros deste Parlamento às atividades ilegais de ontem. Para não pairar dúvidas, eu me refiro ao vídeo do deputado Assumção”, esclareceu Iriny.

O deputado Freitas (PSB) destacou o direito à manifestação e os atos republicanos e democráticos do governador Casagrande. Ainda criticou a falta de diálogo que impera em segmentos extremistas.  “Nesse sentido do extremismo, do radicalismo total, as pessoas passam por cima de todos os limites. Nós todos vimos o que aconteceu no dia de ontem. A injúria, a calúnia, a difamação, o desrespeito, todo tipo de arbitrariedades que não fazem parte da democracia, que não fazem parte da liberdade de expressão, e que não podem ser toleradas por pessoas de bem. É crime e como tal tem de ser severamente punido neste estado e neste país”, concluiu.

O líder do governo, deputado Dary Pagung (PSB) também se manifestou sobre o episódio. “O ato na frente da casa da mãe do governador é um ato insano, é um ato que os capixabas não podem tolerar. Temos que agir. Precisamos das pessoas que pensam que não levando esses atos por politicagem, precisamos ouvir a ciência, ouvir as pessoas que realmente queiram resolver os problemas”, disse.

Sobre a nota de repúdio, o deputado Marcelo Santos (Podemos), que presidia a sessão, disse que a Mesa Diretora avaliaria até esta terça-feira (16) se acatará ou não a solicitação dos pares.

Contra o fechamento

O tratamento precoce da Covid-19 foi novamente defendida pelo deputado Capitão Assumção (Patri) que criticou a falta de planejamento do governo do Estado e garantiu que “com ele [tratamento precoce] em nenhum momento teríamos crise na saúde”. Também criticou a cessão de leitos a doentes provenientes de outros estados. “Cepas sendo importadas para nós. Nós deveríamos estar tratando de nossa saúde. Pergunta ‘que planejamento de saúde é esse?’”, ilustrou.

Para o deputado, a atividade essencial é o sustento da família. “Toda a atividade é essencial. E vocês estão querendo, agora, num golpe da maioria dos estados do Brasil, fechar todo o Brasil. E esse povo vai viver do quê?”, perguntou. “Vocês estão reclamando que o povo tá indo às ruas pra fazer uma manifestação legítima e mostrar onde o governador estiver que ele não pode fazer isso porque ele teve um ano para se preparar para essa pandemia e preferiu gastar o dinheiro com outras coisas e não usar para tratar o povo precocemente”, acusou o deputado.

Assumção ainda disse que o “fechamento” do Brasil não vai acontecer e que a demonstração aconteceu domingo. “Fechando o comércio, os comerciantes vão ficar gravando vídeos das suas mães de 80, 85 e 90 anos de idade, que não vão morrer da Covid, mas vão morrer de fome. Deixem de hipocrisia”, criticou.

Pesar

Os deputados Emilio Mameri (PSDB), Doutor Hércules (MDB), Theodorico Ferraço (DEM) expressaram tristeza diante da situação da pandemia no estado e no país. Mameri voltou a recomendar a necessidade de cumprir os cuidados mínimos de prevenção e seguir as medidas protocolares. No entanto, alertou para a possibilidade de o estado também entrar em colapso, a exemplo do que vem acontecendo pelo país.

Na mesma direção, a fala de Doutor Hércules, lamentou a falta dos cuidados básicos contra a contaminação pelo coronavírus e a incapacidade de o Brasil de fabricar sua própria vacina. O presidente da Comissão de Saúde da Casa registrou sua tristeza por ter de pedir na tribuna um minuto de silêncio em homenagem ao amigo e médico Henrique Marcondes, mais uma vítima da Covid-19.

O mesmo pesar foi manifestado por outro amigo de Marcondes, o deputado Thedorico Ferraço. “Como a gente sofre ao ver um amigo morrer assim. E como estão sofrendo aqueles que têm um pai, uma mãe na porta de um hospital e não pode entrar porque não tem mais respirador, porque não tem mais oxigênio. Estamos sendo vítimas de uma doença que não perdoa ninguém”, lamentou o deputado.

Já Sergio Majeski (PSB) destacou a evolução da pandemia no período de um ano e enfatizou a importância da ciência e comentou o negacionismo em voga. “Às vezes, tenho a impressão que uma parte da população está enlouquecendo. Em muitas coisas podemos opinar, mas conhecimento, ciência, medicina e todo tipo de conhecimento acadêmico não é opinião, é ciência”, explicou o parlamentar.

Por Aldo Aldesco


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