Dia do Manguezal pelo mundo: animação feita por crianças em festivais de cinema

Austrália. Tanzânia. Itália. O curta de animação “Dia do Manguezal”, produzido por crianças do grupo 6 do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Jacyntha Ferreira de Souza Simões, em Goiabeiras, chegou a 18 festivais de cinema e a outros três continentes: Oceania, África e Europa, além de estados brasileiros e municípios capixabas.

Só neste ano, “Dia do Manguezal” ganhou menção honrosa no 1º Festival de Cinema Velas do Piraquê-Açu, em Aracruz, na mostra “A Escola Vai Ao Cinema”. De lá, seguiu para o Children Internacional Film Festival, na Austrália; 1ª Mostra Som Quadro a Quadro (Mostra Competitiva Infantil), no Rio de Janeiro; 3ª ManduCA (Mostra de Cinema Infantojuvenil de Cachoeira), na Bahia; Festival WIFF 2021 (Watoto International Film Festival Zanzibar), na África; 1º Curta Canedinho 2021 online, Festival de Cinema Infantojuvenil de Senador Canedo, em Goiás.

A animação também foi selecionada para participar do Cine Jardim, Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim, em Pernambuco; do FECSTA, Festival de cinema de Santa Teresa, no Espírito Santo; da 20ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, em Santa Catarina; e do Cartoon Club Rimini, Festival Internazionalle del Cinema d’Animazione, que é realizado na cidade de Rimimi, na Itália.

O circuito de festivais percorrido pelo filme, porém, começou ano passado, na 13ª edição da Mostra Audiovisual de Cambuquira (Mosca), cidade do sul de Minas Gerais. Ainda em 2020, conquistou o prêmio “Contribuição Artística” pelo júri técnico da 15ª Mostra de Produção Independente ABD.

Nesta segunda-feira (26), que marca o Dia do Manguezal em Vitória, a animação será exibida para as turmas que hoje estão matriculadas no Cmei Jacyntha.

Aprendizado para toda a vida

“Para a minha filha, foi ótimo ter tido essa oportunidade de participar do projeto, até hoje ela sabe o quanto o manguezal é importante para todos nós, que é preciso respeitar, cuidar, não jogar lixo. Ela aprendeu tudo isso nesse projeto. Fiquei muito feliz pela produção do filme e muito surpresa também. Para mim, como mãe, foi muito gratificante. Fico ainda emocionada desse filme estar se expandindo de uma forma tão grandiosa, nunca imaginamos que o filme poderia ficar conhecido fora do Brasil”, destacou Bárbara Peroba, 39 anos, assistente de cozinha e mãe de Brenda Peroba do Vale, que fez parte do projeto que deu origem a “Dia do Manguezal”.

Vitória possui uma área de cerca de 12 km² de manguezal, considerado o maior manguezal urbano do Brasil e um dos maiores do mundo. Esse ecossistema costeiro, que compreende toda a baía da cidade, desde Santo Antônio até o bairro Jabour, é fundamental para o equilíbrio ecológico. Devido a sua grande biodiversidade, o mangue é um grande berçário natural para aves, peixes, moluscos e crustáceos, sendo um dos ecossistemas mais importantes do planeta.

O filme

A obra audiovisual foi criada por meio das técnicas de animação 2D, stop motion e pixilation pelos pequenos cineastas do Cmei. A animação foi inspirada na cultura do manguezal, na consciência ambiental e no gosto pelas brincadeiras de pintar, desenhar, recortar e modelar com argila e com massinha. As crianças inventaram cenários, personagens e ações que fazem parte do curta-metragem de animação, além de cantarem a trilha sonora.

“Foi um processo de aprendizagem para todos os envolvidos, as possibilidades oferecidas para as crianças no universo audiovisual foram realizadas de maneira lúdica e planejada, através de oficinas, interações e novas descobertas a todo tempo. Nesse sentido, o processo criativo das crianças foi estimulado em todos os momentos, estabelecendo as digitais infantis no filme de animação Dia do Manguezal. Certamente esse é o principal motivo para um sucesso tão grande”, avaliou a professora Fabíola Fraga, que atua no Cmei Jacyntha e participou do projeto.

A animação de 8 minutos foi lançada em dezembro de 2019, no Cine Metrópolis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Cinema na escola

“Desde 2002, realizamos oficinas de cinema de animação em escolas municipais, mas para crianças e adolescentes do Ensino Fundamental. Essa experiência nos estimulou muito a iniciar um trabalho na Educação Infantil. A realização de ‘Dia do Manguezal’ foi muito bem sucedida, a gente vê que o envolvimento e interesse das crianças, e o filme alcançando um sucesso aqui na comunidade, na cidade, em outros estados e fora do Brasil, através dos festivais de cinema. O reconhecimento do público é um estímulo para o Projeto, para a escola e as crianças”, disse Beatriz Lindenberg, diretora do Instituto Marlin Azul (IMA).

O curta “Dia do Manguezal”, segundo Beatriz Lindenberg, foi uma experiência para iniciar um projeto mais sistematizado de introduzir a linguagem audiovisual na Educação Infantil, incluindo sessões cineclubistas, com curtas feitos por crianças, incluindo a produção local e da própria escola.

“Os brinquedos óticos, que a turma experimenta nesses encontros, são muito lúdicos e instigantes e ajudam no entendimento de princípios básicos do movimento. As sessões comentadas são os primeiros passos para abordagem de elementos da linguagem como enquadramento, luz e também das técnicas artesanais do cinema de animação”, contou a diretora do IMA.

O cinema de animação já faz parte do universo da Educação Infantil, nas práticas de cantar, contar e inventar histórias, pintar, desenhar, modelar massinha, interpretar. A intenção é retornar com o projeto para o Cmei Jacyntha Ferreira de Souza Simões ainda este ano.

Valorização do território

Há mais de 20 anos, as professoras Fabíola Fraga e Márcia Dias realizam na escola um trabalho voltado para a valorização da cultura regional de Goiabeiras, que passa pelo congo e o fazer das paneleiras, e preservação do ecossistema manguezal.

“Por se tratar de uma escola inserida numa área de forte influência cultural, o protagonismo dessas tradições sempre esteve presente no trabalho pedagógico e de todos os profissionais da unidade. Nossas crianças, em sua maioria, têm laços de parentesco com paneleiras, mestre e mestra de congo, cantadeiras do congo, ou seja, a comunidade a qual pertencem. É nosso papel reforçar esse vínculo, estabelecendo as bases para construção de seres protagonistas e conhecedores da sua própria identidade, cidadãos”, salientou a professora Fabíola.

A unidade de ensino realiza em seu projeto pedagógico um trabalho de educação ambiental que contribuiu para a elaboração da Carta de Vitória, documento apresentado durante a Rio+20, em 2012, e para a instituição do Dia do Manguezal, em 26 de julho, em Vitória. A carta escrita pelas crianças, à época, tinha cerca de três metros de comprimento com dizeres, desenhos e fotos sobre os cuidados necessários com o manguezal.

Produção

Realizada pelo projeto Animação Ambiental, do Instituto Marlin Azul (IMA) através da Lei Rouanet, com patrocínio da Aliança Energia, em parceria com o projeto de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Narradores da Maré, com a participação especial do projeto Instrumentarte, do Circuito Cultural da Secretaria de Cultura de Vitória (Semc), a animação “Dia do Manguezal” sintetiza e comemora o trabalho de conscientização ambiental realizado no Cmei Jacyntha Ferreira de Souza Simões, a partir das produções de desenhos, pinturas e das toadas de congo que as crianças já gostavam de cantar e tocar.

Por Brunella França


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