Deputados debatem ações contra crime organizado no Espírito Santo

Ricas apontou que ações conjuntas são importantes para contornar gargalos como o baixo efetivo | Fotos: Ana Salles

A Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa (Ales) recebeu nesta segunda-feira (8) o superintendente regional da Polícia Federal no Espírito Santo (PF-ES), Eugênio Ricas. O convidado apresentou o projeto de criação de uma força-tarefa no estado para combater o crime organizado e em sua fala inicial mostrou-se preocupado com a falta de controle da situação atual. “Nós estamos correndo o risco de perder o controle da segurança pública no Espírito Santo”, alertou.

O gestor expôs algumas ocorrências mais recentes de violência no estado, e, ao citar operações da polícia para detonar bombas nas ruas de Vitória, fez uma comparação da capital capixaba com o Rio de Janeiro. “Não é comum, isso aqui é uma característica do Rio de Janeiro, onde os policiais vivem uma guerra civil diariamente. Nós não podemos deixar que aqui no Espírito Santo essa situação vire rotina”, afirmou.

Baixo efetivo

O baixo número de agentes nas forças de segurança pública é uma das principais preocupações do convidado. “Eu diria, sem medo de errar, que a maior fraqueza na área de segurança de todas as instituições é o baixo efetivo. Hoje não tem nenhuma instituição no Brasil, nenhuma instituição de segurança pública no Brasil, que conte com um efetivo adequado. Um efetivo que permita um trabalho adequado”, alarmou.

O superintendente citou a sua instituição como exemplo. Ricas lamentou que a PF conte somente com 303 policiais no Espírito Santo. “É pouco pra gente fazer tudo que a gente precisa fazer, todas as nossas atribuições constitucionais”, explicou. Como consequências desse baixo efetivo, o convidado citou a desmotivação dos agentes, baixa na imunidade, cansaço e a falta de compartilhamento de informações.

Força-tarefa

Para o especialista, uma das melhores formas de combater o baixo efetivo das instituições é a realização de ações integradas, conhecidas como “força-tarefa”. “Temos hoje projeto para a criação de mais dez forças-tarefas Brasil afora. E hoje, para nossa felicidade, a Polícia Federal estabeleceu como prioridade a criação da força-tarefa aqui do Espírito Santo e também da força-tarefa da Bahia”, informou.

Ricas deu alguns sinais sobre o ponto em que se encontra a implantação da força-tarefa aqui no estado. O superintendente adiantou que a PF já dispõe do prédio para a instalação em Vitória, que foi cedido por dez anos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit). O prédio possui uma localização estratégica, próximo à Sede da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e também do Núcleo de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

As obras de reforma no edifício onde será instalada a força-tarefa já foram autorizadas pela PF e o custo estimado é de R$ 300 mil. Mas antes mesmo da conclusão das obras, a corporação já vai começar a se reunir com a PRF e com as guardas civis de Vitória e Vila Velha para traçar estratégias. “Nós já vamos começar a atuar dentro da superintendência com os parceiros que aderiram à proposta da força-tarefa”, disse.

Além das ações integradas com as demais forças de segurança do Estado, o especialista conta com a colaboração de agentes federais de outros estados. Ele explica que para combater o crime organizado é importante que os agentes que atuam no Espírito Santo troquem informações com policiais que trabalham em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, onde atuam grandes facções criminosas.

“Quando nós trazemos policiais de fora, e a PF vai arcar com todo custo, com pagamento de diária, esses policiais trabalham 13, 14 horas por dia, vão dormir no mesmo ambiente de trabalho, então, à noite eles também estão lá, participando da investigação. Então a gente agrega muito ao trabalho da força-tarefa”, concluiu.

Novo cangaço

O gestor também falou sobre a prática criminosa conhecida como “novo cangaço” e alertou que ela está deixando de ocorrer somente nas cidades do interior e se expandindo para grandes centros urbanos. “Eles chegam numa cidade pequena, o primeiro lugar que eles vão é no destacamento da polícia, rendem os policiais e ficam livres para poderem ir aos bancos, pegar todo dinheiro, fazem a sociedade de refém e ficam tranquilos para poder atuar”, explicou.

O convidado citou um recente caso ocorrido em Varginha (MG), onde um grupo de 25 bandidos entrou em confronto com a polícia e acabou executado pelos agentes. “A diferença é que isso foi em Varginha, uma cidade grande, um centro urbano, perto de várias rodovias. Há algumas semanas atrás aconteceu a mesma coisa em Araçatuba, no interior de São Paulo. A ousadia dos criminosos fez com que eles migrassem do sertão do Nordeste, do Norte e agora estão atuando perto de grandes centros”, afirmou.

A reunião foi conduzida pelo presidente do colegiado, deputado Luiz Durão (PDT). Também participaram os deputados Bruno Lamas (PSB), Delegado Danilo Bahiense (sem partido) e Theodorico Ferraço (DEM). O presidente da comissão entende que a criação da força-tarefa tem muito a contribuir para o combate ao crime organizado no Espírito Santo.

“Nosso estado passa por uma situação muito difícil de violência, causada por muitas coisas, como essa pandemia que gerou um desemprego total. É muito importante somar forças, o importante é dar proteção ao povo. O importante é somar com pessoas mais experientes para combatermos o crime organizado, porque eles são organizados e nós precisamos nos organizar”, finalizou Durão. 

Por João Caetano Vargas


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