No País do Aécio Bispo, Alice conhece os ritmos e as maravilhas do Nordeste

Alice no País das Maravilhas em Cordel | Fotos: Rafael Leite

Um coelho branco de colete. Uma lebre que toma chá. Um chapeleiro maluco. Um gato que desaparece e sorri. Uma lagarta que fuma narguilé. Cartas de baralho que são soldados. Nem precisa chamar a personagem principal dessa história para saber que se trata de “Alice no País das Maravilhas”.

Mas e se, em vez de um jardim inglês, a menina Alice estivesse num quintal de uma casa em meio à caatinga, vegetação típica do Nordeste, com árvores de troncos retorcidos e cactos mandacaru em flor? E se em vez de uma toca, Alice tivesse caído em uma cacimba atrás de um coelho engravatado?

Nas veredas do cordel,

Sigo as mais bonitas trilhas,

Vou compondo minha história

Em canções e redondilhas.

E, sem cometer tolice,

Narro a história de Alice

No País das Maravilhas.

No País das Maravilhas, imaginado pelo cordelista João Gomes de Sá, há rios de leite, castelos feitos de rapadura e o chapeleiro louco usa um chapéu igual ao de Lampião. Na tarde desta sexta-feira (17), Alice teve um encontro muito especial: após cair numa cacimba, atrás de um coelho branco usando terno e gravata e carregando um grande relógio, ela se viu entre as turmas do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Aécio Bispo dos Santos (ABS), em Vitória, capital do Espírito Santo.

No País do ABS

Junto com as crianças, aquela menina curiosa tratou de conhecer a cultura e algumas das delícias nordestinas, não sem antes desviar de um carcará que a espiava de cima de um mandacaru. E em vez de um chá de desaniversário, Alice chegou foi a um “forró das cinco!”

Êta, arrastapé arretado dessas crianças! O forró acabou, o cenário mudou e, depois de comer um pedacinho de rapadura, seguindo em busca do tal coelho, Alice se viu diante de um boi bumbá. Abre a porteira, Alice, pra ver o boi encantado, parte do folclore nordestino.

Nesse cordel encantado, Absolem, a famosa lagarta filósofa da história, virou uma centopeia com um grande desafio para seus tantos pares de pés: apresentar o frevo pernambucano para a menina. E não é que ela e sua turminha deram conta do recado? Oxe!

E no Nordeste, até o Chapeleiro Maluco dançou, apresentando o xaxado para Alice junto com um grupo muito especial de cangaceiros. O Gato de Cheshire, nessa história reinventada, virou a Gata Sorridente, que entre um enigma e outro, também era dançarina de axé e fez um grupo muito animado andar na prancha!  

Quando a plateia pensa que acabou, lá veio de novo o coelho engravatado! A corrida de Alice tentando alcançá-lo a levou a uma batalha de reisado, em que valentes cavaleiros duelaram em homenagem à Rainha de Copas. Mas dali a menina saiu de pressa, antes que mandatária mandasse lhe cortarem a cabeça.

Depois de tanto sonhar, e com o pescoço intacto, Alice acorda em seu quintal, sem coelho, nem gata ou chapeleiro, e termina o dia na maior festa nordestina: a quadrilha. Anarriê!

Uma Alice especial

Nicolle Alves de Souza, do grupo 6, não conseguia esconder os sorrisos de cima do palco. Ela mandava beijos, distribuía sorrisos e dizia para os pais, na plateia, que estava muito animada.

Das cadeiras do auditório da Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos (Semcid), onde o espetáculo foi realizado, os pais de Nicolle não acreditavam no que estavam assistindo. Era a primeira vez que a pequena dançava em sua cadeira de rodas.

“A minha filha nunca dançou, foi a primeira vez. Ela estava ali, no palco, com as outras crianças, feliz, e ela dançou. Eu não esperava, estou muito surpresa”, contou Rafaela Alves Rosalina, dona de casa e mãe da Nicolle.

Para Jailson Carvalho de Souza, auxiliar de serviços gerais e pai da Nicolle, estava difícil de encontrar as palavras. “Foi emocionante ver a apresentação dela, muito emocionante…”, sussurrou ele, ainda emocionado ao final do espetáculo.

Trabalho coletivo

Foto: Divulgação

“Ao longo dos anos que essas crianças passaram conosco, as famílias acordavam bem cedinho e levavam seus filhos para nosso Cmei, que se tornou um lugar cheio de alegria, de magia e de aprendizagem. Obrigada, famílias, por confiarem em nós”, agradeceu a diretora da unidade de ensino, Leida da Penha Valbusa.

Baixadas as cortinas, a Rainha de Copas, na verdade, revelou-se a pedagoga Simone Guimarães Castanheira, uma das responsáveis por pensar e organizar todo o trabalho pedagógico da unidade de ensino, que culmina com o musical ao final do ano.

“Durante todo o ano trabalhamos com esse tema, no livro de João Gomes de Sá, descobrindo a poesia dos cordéis, a música nordestina, as delícias. Isso deu uma oportunidade dessas crianças conhecerem outra cultura. O cordel traz humor, alegria e nos permite trabalhar com qualquer tema. Agradeço a cada uma e cada um que fez esse trabalho possível. Às crianças dos grupos 6, a gente deseja a todas vocês muitas alegrias naquela escola de gente grande para onde vocês irão no ano que vem”, destacou.

Presente na apresentação e emocionada, a secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner agradeceu pelo empenho dos profissionais do Cmei Aécio Bispo dos Santos e elogiou o trabalho de excelência que é feito na comunidade do Jaburu.

“O Cmei Aécio Bispo é um orgulho para Vitória. A qualidade do trabalho entregue, o comprometimento, a estrutura, o carinho é tudo o que nós desejamos para todas as unidades de ensino da nossa capital. Parabéns a todas e todos que lá estão pelo trabalho que é feito no Cmei ABS, o que vocês fazem lá é a educação que transforma vidas”, parabenizou.

Por Brunella França


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