Estudo aponta que reformas neoliberais contribuíram para a quase estagnação da economia brasileira

O pesquisador da FGV EAESP, Luiz Carlos Bresser-Pereira, explica que o baixo crescimento ocorreu em conjunto com a desindustrialização

Foto: FGV

As reformas neoliberais adotadas pelo Brasil e os outros países latino-americanos a partir dos anos 1980 resultaram na quase estagnação da economia nacional, a qual persiste até hoje. Em artigo publicado na Revista de Economia Política, o pesquisador da FGV EAESP, Luiz Carlos Bresser-Pereira, explica que o baixo crescimento ocorreu em conjunto com a desindustrialização: entre 1980 e 2018, a participação do setor industrial no Produto Interno Bruto Brasileiro caiu de cerca de 26% para apenas 11%.

O desenvolvimento econômico nacional, segundo o autor, está vinculado ao aumento da renda por habitante. No processo de industrialização, os ganhos de produtividade ocorrem pela transferência de mão de obra para atividades de alto valor agregado, as quais demandam trabalhadores especializados, com maior escolarização e remuneração. Assim, a desindustrialização se relaciona com a redução da taxa de crescimento per capita porque ocasiona a transferência de mão de obra para ocupações menos sofisticadas.

O Brasil e os demais países latino-americanos, segundo o autor, caíram no que chama de “armadilha da liberalização”. As reformas neoliberais levaram o país à quase estagnação do Brasil desde 1990 por meio de medidas como a privatização de atividades monopolistas. Segundo explica o estudo, uma vez retiradas da qualidade de patrimônio público, o mercado é incapaz de regular tais empresas, o que resulta em queda na qualidade dos serviços prestados à população e aumento de preços. Neste processo, apenas a classe rentista se beneficia, frisa o autor.

Conforme expõe o estudo, a taxa de crescimento per capita do leste asiático, excluindo-se a China, foi de 5% entre 1991 e 2019, enquanto o crescimento da América Latina, no mesmo período, foi de apenas 1,5%. O resultado do Brasil foi ainda menor: 1,2%. Em comparação, de 1961 a 1980, período de políticas públicas de estímulo à industrialização em ambas as regiões, a diferença de crescimento entre Leste da Ásia e América Latina foi significativamente menor: 5,2% para 4,6%.

A teoria novo-desenvolvimentista critica a redução do Estado implementada pelo neoliberalismo nos países em desenvolvimento como o Brasil. Neste sistema, explica o autor, a política de crescimento está relacionada ao endividamento externo. Sem produção com alto valor agregado, os países ficam dependentes da exportação de commodities. Para a teoria novo-desenvolvimentista, “déficits em conta-corrente tornam a moeda do país ação e remuneração. Assim, a desindustrialização serelaciona com a redução da taxa de crescimento per capita porque ocasiona a transferência de mão de obra para ocupações menos sobrevalorizada, tiram a competitividade das boas empresas, e desestimulam, se não impedem, os investimentos privados”, aponta o estudo.

Da Redação | Fonte: FGV


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