CBPM CONVIDA: resíduos da mineração na agricultura

Remineralizadores podem acabar com a dependência dos importados | Fotos: CBPM

O Brasil importa 85% dos fertilizantes que consome. Entre janeiro e julho de 2022, as importações desse produto subiram 16%, em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). Com isso, especialistas apontam prejuízos: custos altos e falta de compatibilidade das soluções com alguns tipos de solos brasileiros. Segundo eles, essa realidade pode mudar com o uso dos remineralizadores de solo, que são provenientes de resíduos da mineração, porque são mais baratos, sustentáveis e possuem alta qualidade. Para discutir essas questões, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral promoverá uma nova edição do CBPM CONVIDA nesta quinta-feira, 25, às 8h30, no auditório da instituição.

O tema do encontro é “Resíduos da Mineração – Os remineralizadores na Prática” e será debatido por Frederico Bernardez, diretor presidente da ABREFEN, por Neri Marcante, sócio-diretor da Mineagro, pela geóloga Viviane Oliveira, diretora da Georaiz e por Heitor Duarte, gerente de P&D da Largo. “O objetivo do encontro é ampliar as discussões e reverberar para a sociedade informações sobre pesquisas e o uso de subprodutos da mineração. Neste novo encontro, vamos focar nos agrominerais, que são insumos extraídos da mineração e utilizados na agricultura”, explica a geóloga Ana Fábia Matos, assessora técnica da CBPM.

Resíduos são estratégicos

Há algum tempo, a CBPM tem colocado em pauta a questão do uso de resíduos da mineração, levando em consideração a conservação do meio ambiente e as potencialidades econômicas. A companhia tem convidado empresas do setor de mineração, profissionais e agentes públicos a se engajarem, assim como a SEPLAN (Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia), que incluiu o estudo sobre o aproveitamento de resíduos no próprio plano estratégico. Apesar da disposição para debater esse tema, o setor minerário ainda não aderiu de forma equivalente. Para o doutor em geologia Eder Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados, alguns fatores explicam esse fenômeno: a questão cultural da indústria mineral e o desconhecimento do potencial dos coprodutos e subprodutos. “Muitas mineradoras ainda não consideram a importância da economia circular e do uso integral dos minérios e dos resíduos em outras atividades econômicas. Em muitas situações de mineração é possível desenvolver coprodutos, onde a matéria-prima é a mesma e o processo de beneficiamento pode desenvolver diferentes produtos para diferentes finalidades”, destaca Martins

O pesquisador da Embrapa também ressalta que as empresas precisam expandir a integração que já estabeleceram com seu entorno e criar soluções regionais. “É fundamental o desenvolvimento de pautas comuns mais abrangentes entre a mineração e a agricultura, por exemplo, onde determinados resíduos da mineração podem constituir insumos nobres para a agricultura”, destacou Eder Martins.

Brasil é pioneiro no uso de remineralizadores

Frederico Bernardez, diretor-presidente da ABREFEN

Na contramão da dependência das importações, produtores de várias partes do Brasil já conhecem as vantagens dos remineralizadores tanto no aspecto econômico como nas questões de sustentabilidade. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais (ABREFEN), atualmente, 37 tipos de remineralizadores são registrados no país, fabricados a partir de diferentes rochas, como basalto, micaxisto, siltitos, entre outras. “O Brasil é pioneiro nesta tecnologia e possui os maiores estudiosos neste tema. O uso dos remineralizadores promove a redução de custos tanto para os produtores como para o consumidor final, gera mais ofertas de emprego, entre outros benefícios. Do ponto de vista ambiental e sustentável, os benefícios podem ser ainda maiores, como por exemplo: empreendimentos minerários podem transformar passivos ambientais em ativos, a criação de produtos 100% naturais, sem adições de substâncias químicas e o sequestro de carbono”, explica Frederico Bernardez, diretor-presidente da ABREFEN.

Para Bernardez, a Bahia tem grande potencial para expandir a produção e o consumo dos remineralizadores de solo, porque está entre os maiores estados mineradores do país, com diferentes produtos e potenciais subprodutos. Além disso, também tem forte setor agropecuário.

Remineralizadores geram resultados para agricultura

A geóloga e pesquisadora Viviane Oliveira

Em muitas propriedades da Bahia são utilizados insumos provenientes de resíduos da mineração, como fertilizantes e remineralizadores. Segundo a geóloga e pesquisadora Viviane Oliveira, diretora da Georaiz, o uso resulta na melhoria da qualidade do solo e das plantas, o que torna os produtos agrícolas mais competitivos. “Hoje, nós trabalhamos com mais de 100 municípios baianos e outros estados, como o Ceará. Em parceria com a pedreira Ipirá Fértil temos um produto (pó de rocha com material biológico) que está há mais de 10 anos no mercado, que se vende pela qualidade que tem como remineralizador de solo e pelos resultados para a agricultura. Quando a gente adiciona a biologia, ele traz um resultado muito mais acelerado”, diz Oliveira. 

A geóloga, que tem especialização em fertilidade dos solos tropicais, explica que os benefícios dos remineralizadores são comprovados no aumento da qualidade do solo, na quantidade e qualidade do produto que chega ao consumidor final. Os resultados são vistos desde o cultivo de hortaliças até na produção de plantas de grande porte, como abacate, coco, cítricos, entre outros. Apesar disso, pesquisadores e fabricantes dos agrominerais dizem que ainda enfrentam dificuldades para expandir o negócio.

“A gente concorre com indústria que domina o mercado que, inclusive, formou os nossos agrônomos a colocarem na agricultura produtos que não são compatíveis, soluções de países temperados, que ficam seis meses no gelo, que têm um solo muito mais reativo, muito menos profundo, etc. Nossa argila é muito mais granulada, não tem como segurar esses nutrientes solúveis, então é tudo lixiviado e ocorrem perdas”, explica Viviane Oliveira.

Para os profissionais que trabalham com os remineralizadores é só uma questão de tempo para que a realidade atual mude, já que os resultados positivos são incontestáveis. O engenheiro agrônomo, Francisco Fernando Lopes dos Santos, especialista em cultivos produtivos e formação de pastagens, atua na cidade Nova Soure, distante 240 km de Salvador. Entre outras atividades, ele trabalha em uma cooperativa de fruticultores, com acerola irrigada e faz uso do pó de rocha.

“A praticidade da tecnologia e sua durabilidade de ação, principalmente como melhorador das características de solo (reposição de macro e micro) são inegáveis, assim como a sua velocidade de ação. Faço aplicação em milho sequeiro, como corretivo de acidez e reposição de nutrientes. Os remineralizadores promovem melhor interação solo-planta, enraizamento, aeração do solo (descompactação), controle de acidez, melhorias da vida biológica do solo e reposição mais rápida de nutrientes”, explica o engenheiro agrônomo.

Da Redação | Com informações da Ascom/CBPM


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