Estudo avalia contribuição do Empreendedorismo Social para resolução de problemas habitacionais  

“O artigo busca pensar como podemos integrar mais as soluções, para resolver um problema que é gigante quando falamos de habitação do Brasil,” comenta um dos autores do artigo, Edgard Barki.

Foto: FGV

O artigo “Alicerces para negócios de impacto em habitação” apresenta uma visão sistêmica sobre problemas habitacionais decorrentes da falta de recursos e discute como o empreendedorismo social pode avançar em soluções para atender às demandas sociais na área. A pesquisa discute como o empreendedorismo social pode atuar para mitigar a falta de acesso da população de baixa renda à moradia adequada. 

Desenvolvido pelos professores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) Edgard Barki e Tânia Veludo-de-Oliveira; ao lado das doutorandas Adriana Guedes Arcuri, Fabrícia Peixoto; e a mestre Ana Tereza Delapedra, a pesquisa, publicada na revista GV Executivo, auxilia gestores a compreender de forma pragmática como atuar com inovação e propósito na área habitacional. 

A contribuição do artigo está em mostrar, de modo original e pioneiro, como é possível inovar para procurar atender ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS 11), por meio de negócios de impacto, somando esforços em prol do direito à moradia digna e complementando as iniciativas governamentais e privadas tradicionais. Além disso, o estudo traz uma reflexão sobre os desafios e caminhos para o futuro do empreendedorismo social na área habitacional. 

Quando se fala em impactos, segundo Edgard Barki, a ideia é pensar em como é possível ter negócios que tenham um modelo tradicional, mas que busquem solucionar alguns gaps que o Estado e organizações da sociedade civil não conseguem atender.  Nesse contexto, o artigo traz três casos que são exemplos de negócios que tentam resolver o problema da habitação em determinadas dimensões em reformas, regularização fundiária e energia solar.  

“Individualmente, é inegável que eles têm impacto e, mudam a vida dessas pessoas beneficiadas pelos projetos. O artigo busca pensar como podemos integrar mais as soluções, para resolver um problema que é gigante quando falamos de habitação do Brasil,” analisa Edgard. 

Problemas de habitação  

A precariedade habitacional está conectada a várias problemáticas, dentre as quais: ocupação ilegal de terras, construção de moradias improvisadas e falta de acesso a serviços básicos como água e energia. 

Em relação à primeira problemática, os programas de habitação de interesse social não conseguem suprir a demanda por moradia, contribuindo para a ocupação ilegal de terras. 

Muitas famílias começam a vida ocupando ilegalmente um terreno, sem ter condições básicas para moradia. Embora estejam em áreas urbanas, estão em locais que o poder institucional não legisla e isso traz consequências para essa população, pois tem seus direitos básicos diretamente associados à moradia digna negados, e ainda correm o risco de o poder público decretar a reintegração de posse e o despejo dessas famílias. 

A regularização é, portanto, o alicerce para a melhoria na vida das pessoas e para uma mudança de perspectiva, pois oferece cidadania e pertencimento social, permitindo com isso que a população alce novos sonhos e possibilidades. A regularização fundiária tem impactos profundos no curto e no longo prazo, e a falta dela é considerada um importante inibidor do desenvolvimento de países emergentes. 

Em relação à segunda problemática, viver sem acesso à infraestrutura básica, como rede de esgoto, e em uma casa improvisada, com um único cômodo com paredes de madeira, afeta a autoestima dos moradores. Posse e acesso a bens e serviços são sinônimos de sucesso, status e felicidade na sociedade atual. 

Por fim, sobre a terceira questão, a população que constrói suas moradias em áreas irregulares acaba obtendo acesso a serviços básicos essenciais, como água e energia, mediante práticas ilegais conhecidas por gatos, que consistem na utilização desses serviços por meio de ligações clandestinas feitas diretamente da rede pública. 

Empreendedorismo na área de habitação  

O empreendedorismo social usa lógicas de mercado para resolver problemas sociais, em setores como  educação,  saúde,  serviços  financeiros  e  inclusão  produtiva.  A área de habitação vem recebendo atenção com investimentos relevantes de empresas, fundações e institutos familiares.  

Segundo Edgard, quando se fala em negócios ou políticas públicas, é preciso analisar em como impactar mais pessoas e como escalar os propósitos. No campo acadêmico, há três formas de escalar, que podem se complementar: Scale outScale deepScale up

Scale up 

Scale up tange a ampliação do alcance de um negócio, por meio de influência na  legislação,  e  nas  políticas públicas, para que a questão não fique apenas no escopo do negócio, mas em um  âmbito da sociedade civil. Como exemplo, o grupo Terra Nova, fundado em 2001 para trabalhar com regularização fundiária, adotou o conceito de desenvolvimento sustentável.  

A companhia já homologou 38 acordos de regularização fundiária, participou da elaboração de projetos de lei nas esferas federal, estadual e municipal e contribuiu com iniciativas dos estados de São Paulo e Paraná para a solução de problemas fundiários. A organização foi citada como exemplo, pois teve a pretensão de mudar as políticas públicas, ou seja, não atuou isoladamente, mas com a participação do Estado.  

Scale out 

O objetivo do Scale out é atingir mais pessoas em termos de escala. Como exemplo o caso do empreendimento Vivenda se destaca realizando reformas nas casas da população de baixa renda. 

Em 2021, a Vivenda mudou seu modelo de reformas residenciais para uma tecnologia social, a Nova Vivenda, criando uma plataforma em que várias outras organizações podem oferecer serviços em todo o Brasil.  

Scale deep 

Scale deep baseia-se na capacidade de mudança de comportamento. No que ela é atingida, pode ser considerado um modelo mais complexo.  Um exemplo é o caso da Revolusolar, pioneira na criação de cooperativas de energia solar em comunidades. Trabalham não apenas com a energia, mas com a educação da população para que possam transformar a matriz energética da comunidade, ou seja, mudando a cultura da comunidade para pensar sobre as questões ambientais.  

Uma visão de futuro 

A moradia de qualidade é uma questão social básica, e sua falta acentua a desigualdade social existente no Brasil. A solução do déficit habitacional é complexa e exige a atuação do governo, de empresas e da sociedade civil. Um dos caminhos é o empreendedorismo social, que busca oferecer soluções por meio de mecanismos de mercado para a população vulnerável. 

O desafio para o futuro do empreendedorismo social na área habitacional consiste em trabalhar em uma lógica de solução holística e desenvolvimento local em vez de intervenções separadas. 

Para os pesquisadores, a resposta para o problema habitacional não é simples e depende de uma articulação entre fundações, institutos, empresas e Estado.  É preciso repensar os processos de solução com maior sinergia, articulação e cocriação com a própria população beneficiária, a quem não é apenas negado acessos, mas a própria voz. 

Da Redação | Fonte: FGV


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