Reunião debate papel de igrejas contra as drogas

Lideranças religiosas apresentaram trabalhos sociais voltados à prevenção da criminalidade e dependência química em reunião na Assembleia Legislativa

Deputado Delegado Danilo Bahiense preside Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente | Foto: Lucas S. Costa

O papel da igreja e da família em um cenário onde se observa a cooptação de jovens por parte do tráfico e desvios para o caminho das drogas foi o tema abordado em reunião extraordinária nesta quinta-feira (8) na Assembleia Legislativa do Espírito Santo. O encontro promovido pela Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente e de Política sobre Drogas teve a participação de autoridades religiosas.

O presidente do colegiado, deputado Danilo Bahiense (PL), destacou alguns dos problemas atuais. “Vemos uma sociedade acrítica, competitiva e consumista. O mercado é mais importante que a vida. Pais, mães, filhos, filhas entram no processo exigente de trabalho e estudo que consome tempo e energia e a educação de nossos filhos fica altamente prejudicada, comprometendo todo o tecido social”, destacou.

Nesse compasso, afirmou, o uso de drogas, lícitas e ilícitas vem se tornando constante e tem contribuído para uma conta alta a ser paga pela sociedade devido aos estragos que causa. O parlamentar ressaltou a importância da igreja e da família como instituições criadas para “resgatar a humanidade das escolhas equivocadas que produzem dor, sofrimento, crises e conflitos pessoais e sociais”.

De acordo com ele, a função da família é propiciar ambiente saudável de desenvolvimento, principalmente para os filhos, que se moldam seguindo os valores que lhes são ensinados. Por outro lado, analisou, além de toda a contribuição no aspecto religioso, esses templos devem desenvolver atividades para ajudar a sociedade.

Membro da comissão, o deputado Torino Marques (PTB) reiterou o entendimento do colega e salientou o papel dessas duas instituições no crescimento de um jovem. Segundo ele, a ‘palavra’, tira as crianças de momentos difíceis na vida. Ele usou o atentado ocorrido em escolas de Aracruz para demonstrar como famílias desestruturadas podem causar problemas.

Atuação das igrejas

Convidado presencial da reunião, o pastor da Convenção das Igrejas Batistas Mario Cézar Souza Rodrigues reconheceu como pode ser vantajosa a parceria entre as instituições religiosas e o poder público. Ele elogiou a atuação da Assembleia Legislativa (Ales) na elaboração de leis e projetos visando resolver questões sociais complexas.

Sobre as igrejas, lembrou a atuação delas ao longo dos séculos para enfrentar os desafios que se apresentam. Atualmente um deles é a perda de jovens para as drogas e crime, fato que tem gerado a destruição de lares. Na análise de Rodrigues, a dependência química é um assunto que precisa ser mais abordado dentro das instituições, públicas e privadas, inclusive nas igrejas.

O pastor lembrou que o trabalho dos templos não pode se limitar apenas a conceder cestas básicas. Ele frisou que a aceitação da instituição religiosa entre as pessoas facilita o acesso de seus membros às residências. Essa proximidade, afirmou, permite que problemas sejam identificados e busque-se uma solução.

Participando da reunião via internet, o pastor Marcelino Augusto Ferreira Ribeiro, da Igreja Batista Central de Carapina, mostrou um projeto social da instituição no acolhimento de crianças no contraturno escolar para ensino de jiu-jitsu. Ferreira garantiu que enquanto os jovens estão na igreja ficam protegidos de traficantes.

Ele esclareceu que o papel da igreja não é substituir a família, e sim complementar o esforço familiar em cuidar das crianças e considerou que, mais do que um templo religioso, ela é um aparelho social dentro da comunidade, muitas vezes sem assistência do Estado. Ribeiro projetou como a realidade do local onde mora seria diferente se os mais de 50 templos existentes na região ofertassem serviços de saúde e atividades esportivas, por exemplo.

“Não esperem terem recurso do governo, não esperem receber uma emenda parlamentar. Tudo isso é muito bem-vindo. Mas a minha dica é simplesmente abra a porta do prédio da sua igreja e ofereça aí qualquer tipo de iniciativa. Certamente as crianças virão, as famílias virão porque elas estão realmente carentes”, aconselhou, sem desmerecer a importância dos aparelhos estatais de atendimento.

Da Igreja Assembleia de Deus de Nova Aliança, Vitória, o pastor Winter do Nascimento da Rocha corroborou a exposição dos demais participantes da reunião. Na opinião dele, no entanto, os esforços das igrejas junto à sociedade devem focar também na prevenção, não só na recuperação de pessoas que acabam caindo no submundo marginal.

Usuário de drogas por 10 anos no passado, Winter hoje se diz restaurado do mundo do crime. Ele reconheceu a ajuda da igreja na retomada do caminho para longe dos vícios. No entanto, lembrou que muitos não conseguem se levantar, há muitas reincidências e mortes. “É importante fazer esse trabalho, mas esse trabalho tem que chegar antes”.

O deputado Capitão Assumção (PL), vice-presidente do colegiado, também participou da reunião. 

Por Marcos Bonn


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