Negócios de impacto: Entre o efeito social e o sucesso financeiro

“Os negócios de impacto foram e podem continuar sendo relevantes na construção dessa narrativa, mas impacto, propósito e visão mais inclusivos deveriam ser centrais em todas as organizações e empresas”, ressaltou Edgard Barki.

Foto: FGV

Uma linha tênue divide a conceituação central dos “Negócios de impacto”. Por um lado criado para solucionar problemas socioambientais provenientes do mercado, de outro com o foco em ganhar dinheiro impactando positivamente na sociedade. Será que isso é possível? Foi o que Edgard Barki, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) se propôs a investigar em seu artigo “De negócios de impacto para o impacto dos negócios” publicado na revista GV-Executivo.

Em uma perspectiva de que fazer o bem pode ser um bom negócio, vários negócios surgiram no país e no resto do mundo em áreas como educação,  saúde,  habitação  e  serviços  financeiros,  criaram-se  organizações  bem-sucedidas que conseguiram influenciar não apenas seus beneficiários diretos, mas também políticas públicas que impactaram positivamente a sociedade e melhoraram o bem-estar de milhões de pessoas.

Porém, apesar de ter como base teórica uma boa intenção, há diversas críticas ao conceito e à atuação dos negócios de impacto que merecem ser discutidas. Edgard ressaltou cinco aspectos para reflexão:

  • Conceituação frágil: Não há selo ou regra clara para definir negócio de impacto. A classificação depende de uma autodeclaração e de uma visão subjetiva da intencionalidade do negócio e do seu impacto gerado.
     
  • Definição de impacto:  Além da fragilidade da conceituação de negócios de impacto, há dificuldade em definir, avaliar e medir o próprio impacto. Essas dificuldades trazem  o  risco,  mais  uma  vez,  de  esvaziar-se  o  conceito,  pois  frequentemente  não  ficam  claros  o  impacto  gerado  nem  a  diferenciação  para  empresas  tradicionais  que  buscam  maximizar  o  retorno  dos  acionistas  mediante oportunidades de mercado nas áreas de educação, saúde, habitação, entre outras.
     
  • Homogeneidade do perfil empreendedor:  Os negócios de impacto surgiram como uma alternativa para mitigar os problemas socioambientais e criar um capitalismo mais inclusivo, no entanto percebemos que grande parte dos empreendedores que criam negócios de impacto provém de classes mais abastadas tentando resolver os problemas da base da pirâmide.
     
  • Limites do empreendedorismo social e o papel do Estado: Os negócios de impacto beneficiam milhões de pessoas e têm o poder de melhorar a vida e o bem-estar de muita gente, no entanto há um limite para os negócios de impacto, sobretudo quando se trata da população mais vulnerabilizada (como, por exemplo, pessoas negras, pessoas com deficiência, pessoas da base da pirâmide) ou de difícil acesso. Muitas das mudanças sociais são difíceis de monetizar, e há dificuldade de escalar os benefícios nos níveis efetivamente necessários. Assim, é importante reforçar a ideia de que os negócios de impacto não substituem as organizações da sociedade civil nem muito menos o Estado.
     
  • Manutenção do status quo: Como resultado das questões anteriores, o que vemos é uma contradição: os negócios de impacto buscam resolver problemas criados pelo capitalismo, mas o fazem por meio dos mesmos mecanismos que levaram a esses problemas. Ou seja, não há uma visão holística nem sistêmica para uma mudança mais radical. O que vemos, em geral, é o uso dos mesmos pilares do capitalismo para mitigar impactos negativos ou promover melhoria incremental.

Neste contexto, dentre os motivos apresentados acima o professor listou alguns pontos de destaque para fazer valer os Negócios de Impacto na prática.

  • Oportunidade
  • Colaboração
  • Compliance
  • Consistência
  • Coerência
  • Coragem

De acordo com Edgard, o aumento de desigualdade social e crises climáticas e ambientais exige movimentos de transformação radicais da sociedade. As empresas têm papel fundamental nesse processo e, apesar de todas as limitações, podem mudar vários ponteiros sociais e ambientais. Para isso, é importante que atuem de forma oportuna diante das situações; colaborativa com os demais setores como social e político, com políticas de compliance, consistência em suas propostas; coerência nas temáticas abordadas e coragem para colocar em prática.

Expectativas e possibilidades

O estudo deixa claro que a mentalidade engessada precisa ser substituída por uma preocupação mais ampla dos impactos sociais, para que dessa forma seja possível uma mudança na base das estruturas. O objetivo é transformar a sociedade de uma forma mais radical, a fim de que seja possível o sistema capitalista ser alterado e não somente uma mudança superficial

“Os negócios de impacto foram e podem continuar sendo relevantes na construção dessa narrativa, mas impacto, propósito e visão mais inclusivos deveriam ser centrais em todas as organizações e empresas. Por isso, temos de nos movimentar da discussão de negócios de impacto para uma reflexão mais ampla sobre os impactos dos negócios, em uma visão mais sistêmica, holística e integrada entre os diversos setores e atores da sociedade”, ressaltou o pesquisador.

Da Redação | Fonte: FGV


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