Frente discute desenvolvimento da Região Noroeste do Espírito Santo

Reunião debateu linhas de crédito, demandas na saúde, renegociação de dívidas de produtores, concorrência na área de rochas, logística para escoar produção, entre outros assuntos

Em Barra de São Francisco, colegiado dialogou com empresário e líderes políticos da região | Fotos: Lucas S. Costa

A Frente Parlamentar em Defesa do Desenvolvimento Econômico e Social do Noroeste do Espírito Santo realizou, na Câmara Municipal de Barra de São Francisco, na quarta-feira à noite (24), encontro para discutir os desafios para o crescimento da região.  Líderes políticos e comunitários, entidades ligadas a setores produtivos e empresários participaram da reunião.

Estão na Região Noroeste os municípios de Águia Branca, Água Doce do Norte, Nova Venécia, Barra de São Francisco, Colatina, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Ecoporanga, Governador Lindenberg, Marilândia, Mantenópolis, Pancas, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, Vila Pavão e Vila Valério. A população é de cerca de 400 mil habitantes.

Enivaldo dos Anjos (PSD

O prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos (PSD), abriu os debates e pediu à frente parlamentar que encaminhasse demandas urgentes da saúde. “Estamos honrados em sediar este encontro que traz aos municípios uma forma de diálogo importante para que as autoridades possam tomar conhecimento das nossas demandas para, assim, representá-las com mais propriedade. Temos problemas de hospitais que estão sem condições de sobreviver e de dar assistência aos moradores da região. Não tem como desenvolver uma região se não houver saúde”, afirmou.

Obras e investimentos

Durante a reunião, entidades financeiras como o Banco do Nordeste e Bandes apresentaram as linhas de crédito disponíveis para a região. Outro ponto de pauta foi o andamento de obras estruturantes. A Cesan, que atende 9 municípios, destacou que, nos últimos 13 anos, investiu quase R$ 90 milhões na região.

O Banco do Nordeste, que deve inaugurar uma superintendência no Espírito Santo e opera com recursos para área da Sudene, apontou que pretende disponibilizar ao longo do ano cerca de R$ 600 milhões em linhas de crédito.

O setor privado também marcou presença na reunião. O diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas da Barra e de Ecoporanga, Ilton de Oliveira, disse que esperam, a partir do trabalho da frente parlamentar, um ambiente de negócio mais favorável.

“É importante trazer investimentos públicos e privados e facilitar a vida do empreendedor para que ele possa gerar emprego e renda. Trazendo novos investimentos para cá o comércio local vai melhorar”, pontuou. 

Rochas ornamentais

O empresário Saulo Soares Siqueira, diretor da Thor Granitos, falou dos motivos que levaram a empresa a transferir todas as atividades de seu parque industrial do Rio de Janeiro para o Noroeste capixaba. 

“Viemos para aproveitar os recursos da Sudene. Já fizemos investimentos de cerca de R$ 10 milhões e vamos aplicar mais R$ 10 milhões nos próximos anos. Faremos aqui um complexo com várias empresas e que deverá oferecer mais de 1.200 empregos. E isso só foi possível graças às parcerias público-privadas e ao acolhimento que a região nos deu”, destacou.

A Associação Nacional de Produtores de Rochas Ornamentais (Anpro), que representa 118 empresas de granito, fez uma avaliação dos últimos 30 anos da atividade de extração e beneficiamento na região.

“Essa região é hoje mundialmente conhecida porque nossos granitos são a vedete das vitrines internacionais. Estamos vivendo inovações no setor. Não há no mundo o volume que temos no nosso parque de alta tecnologia instalada. Aqui foram investidos nos últimos 5 anos cerca de US$ 300 milhões. Mais de 80% foram custeados por recursos próprios dos investidores porque as políticas das instituições financeiras têm muito rigor burocrático”, enfatizou o diretor Mário Embriose.

Apesar dos números, Embriose mostrou-se preocupado com a competitividade internacional. “Turquia e Índia já começam a encostar na gente. Atravessamos uma pandemia em que não paramos e ainda crescemos 22%. Porém o empreendedor precisa receber a confiança em forma de união dos políticos. Essa força tem de atuar para desburocratizar as linhas de crédito e aliviar o peso do empreendedor”, cobrou.

Bacia leiteira

A pandemia e a seca do ano passado foram apontadas pelo presidente da Câmara de Barra de São Francisco, Ademar Antônio Vieira (PSD), o Lemão Vitorino, como devastadoras para a economia da região no que diz respeito à pecuária de leite. “Nós, junto com Ecoporanga, somos os maiores produtores de leite do estado. E atualmente a produção está tão fraca que não conseguimos nem suprir a demanda do estado. E vai ficar pior”, disse.

Vitorino lembrou que este ano vencem os prazos de pagamento das dívidas feitas em 2015 e que o produtor não terá condições de manter a produção. “Muitos aqui perderam parte importante do rebanho com a seca. Eles não têm como pagar as dívidas e manter a produção. Não adianta liberar crédito se os produtores não têm como pegar. Precisamos de uma campanha de renegociação”, justificou.

Logística: portos e ferrovias

O encontro também tratou de logística para escoamento da produção agrícola e mineral. Um dos assuntos discutidos foi a recuperação e asfaltamento de rodovias. 

Além disso, o diretor-presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa, fez uma palestra e destacou a intenção do grupo de construir ferrovias, um terminal portuário e um campo de geração de energia termelétrica que devem beneficiar o Noroeste capixaba.

A Petrocity é da iniciativa privada e foi criada em 2013 por um grupo de executivos dos setores logístico e bancário para desenvolvimento de projetos portuários.

“A Região Noroeste vai ser muito impactada, serão 2.100 quilômetros de estrada de ferro que vão passar por aqui, trazendo para Barra de São Francisco a possibilidade de um porto seco, uma unidade que vai integrar os modais de transporte ferroviário, rodoviário e portuário. Isso significa interiorização da economia, geração de empregos, distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida para os munícipios daqui”, ressaltou Barbosa. Segundo ele, é possível que os projetos obtenham os licenciamentos ambientais ainda este ano.

Conselho Consultivo do Noroeste

Ao final da reunião, o presidente da Frente Parlamentar, Mazinho dos Anjos (PSDB), anunciou a criação de um conselho consultivo para dar voz às entidades representativas dos setores produtivos. “A ideia é que esse conselho possa dar sugestões para melhorar o ambiente de negócios da região”, disse o deputado.

A frente também garantiu uma articulação com a bancada federal capixaba para destravar obras e projetos interestaduais, já que a região faz limites com Bahia e Minas Gerais e depende de investimentos da União, principalmente na área de rodovias e ferrovias. Mazinho disse que o colegiado vai atuar para que o Noroeste não figure apenas como uma “ponta estagnada no mapa do Espírito Santo”, mas que seja transformada em corredor para o desenvolvimento.

Uma linha de crédito para aumentar a produção de leite também vai ser solicitada ao Bandes por meio da frente parlamentar. “O parque industrial dos laticínios está ocioso, precisamos de investimentos em tecnologia e inovação para avançar na pecuária leiteira”, disse Mazinho.

O parlamentar anunciou, ainda, que pretende viabilizar, por meio do Procon Estadual e da Defensoria Pública do Espírito Santo, um mutirão para renegociação de dívidas para os pecuaristas.

Por Patrícia Bravin


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