Cia Teatro Urgente se une à Novo Império em ópera-samba

Funcultura

Fotos: Bárbara Gomes

Uma incursão pela metrópole de um país em crise, marcado por miséria extrema, manifestações políticas e pela utopia revolucionária do carnaval, está no cerne do espetáculo “Metropolis, Tragédia de um País”, realizado pela Cia Teatro Urgente em parceria com a escola de samba Novo Império. Híbrida de teatro, performance, samba e vídeo, a produção será apresentada neste sábado (24), às 20h, e no domingo (25), 19h, no Teatro da Ufes, em Vitória, capital do Espírito Santo, com entrada gratuita.

Dividido em alas, como em um desfile de escola de samba, o espetáculo apresenta composições em forma de coros e imagens em videomapping, tendo como proposta a ideia de uma “ópera-samba”, com citações de “Ratos e urubus larguem minha fantasia” (1989), do carnavalesco Joãosinho Trinta, e da peça “Macunaíma” (1978), do diretor  Antunes Filho. O título, por sua vez, faz referência ao filme homônimo de Fritz Lang, lançado em 1927.

Com roteiro e direção de Marcelo Ferreira, a encenação reúne a Cia Teatro Urgente e artistas da ala de passistas e ritmistas da Novo Império para uma montagem original, realizada com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria da Cultura (Secult).

Marcelo Ferreira ressalta que sua companhia de teatro completa duas décadas de atividades neste ano e, para celebrar a ocasião, propôs uma parceria com a escola de samba. “Uma amiga, a cineasta Margarete Taqueti, vendo fotos e vídeos dos ensaios, chamou de ‘ópera samba’. Acho que sintetiza bem a formatação dessa montagem, com referências eruditas e populares. Considero os espetáculos das escolas de samba como sendo óperas populares, com uma reunião de canto, dança, música, artes visuais e audiovisuais em sua estética”, afirma o diretor.

Segundo ele, o conceito do espetáculo é o de teatro performativo, que privilegia a movimentação, o gestual expressionista dos performers e o samba no pé do elenco formado por passistas e ritmistas. A estética da produção reúne trilha eletroacústica, experimental, clássica e samba-enredo original, declamado em forma de slam (gênero poético inspirado no rap). 

O samba-enredo “Metropolis, Tragédia de um País” foi criado pelos DJ Zappie Pimentel e pelo percussionista Rafael Jabah, com letra de Marcelo Ferreira e voz da atriz Ivny Matos. As cenas se configuram como uma comissão de frente, “Coro dos Operários”, e as alas “Coro dos Famintos”, “Coro dos Rebeldes” e “Coro da Utopia”.

A referência ao filme de Fritz Lang remete à outra produção da Cia Teatro Urgente, que realizou em 2009 uma releitura de “Metropolis” para o palco. À época, o projeto foi contemplado pelo Edital de Dança Klauss Vianna, da Fundação Nacional de Artes (Funarte). “A escolha, naquela ocasião, deveu-se ao fato de estarmos criando obras a partir de ícones do cinema expressionista alemão. Tínhamos feito ‘Nosferatu’, em 2007, e na sequência veio ‘Metropolis’. Na montagem que estreia agora, revisitamos o repertório e o transformamos num enredo de escola de samba”, conta Marcelo Ferreira.

A parceria com a Novo Império, de acordo com ele, é inédita. Para a realização desse trabalho, foram selecionados bolsistas que fizeram um workshop imersivo na linguagem cênica da Cia Teatro Urgente. “A Novo Império é uma das mais longevas e tradicionais escolas de samba do carnaval capixaba, da região de Caratoíra e da Grande Santo Antônio. Por ter morado nessa região, nos anos 1980, e ter desfilado na escola, nos primeiros anos do Sambão do Povo, eu construí uma relação afetiva com ela. Mas a parceria vai além disso, ela se deve também ao reconhecimento pela participação efetiva da comunidade na manutenção da escola”, ressalta o diretor.

Coreógrafo, passista e coordenador da ala dos passistas da Novo Império, Vini Sayos conta que foi uma experiência desafiadora. “Desde o momento em que aceitei o convite para participar do projeto, sabia que seria um grande desafio. Mas o mergulho que fizemos na formação em linguagem cênica nos colocou em contato com um conteúdo muito rico, que a partir de agora vou aproveitar nas minhas apresentações na quadra da escola de samba e também na avenida.”

O espetáculo, ambientado em um dia de uma metrópole comandada por um ditador, dialoga com a obra de Fritz Lang por meio da projeção de imagens do filme, que passam a integrar a narrativa visual junto com outras imagens emblemáticas criadas pelo artista visual Raphael Newman, que também é assistente de direção da Cia Teatro Urgente.

Uma apresentação especial também acontece no dia 2 de julho, às 19h, na quadra da escola de samba Novo Império, em Caratoíra, Vitória. Na ocasião, o espetáculo contará com projeções em videomapping, pela PixxFluxx, além da presença do DJ Zappie Pimentel, com a participação do percussionista Jonathan Seabra.

Por Tiago Zanoli, Danilo Ferraz, Karen Mantovanelli e Juliana Nobre


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