Inscrições abertas para o workshop “Corpo Atlântico: Uma Investigação Arqueológica das Transversalidades”

No curso, o coreógrafo Paulo Fernandes explica a influência da etnia Bantu na formação da identidade afro-capixaba e como sua pesquisa deu origem a uma performance-instalação. Foto: Divulgação.

Sons, luzes e objetos provocam os sentidos do espectador no workshop “Corpo Atlântico: Uma Investigação Arqueológica das Transversalidades”, realizado de 08 a 10 de outubro, das 14h30 às 16h30, no Palácio da Cultura Sônia Cabral, no Centro de Vitória. Ministrado pelo coreógrafo Paulo Fernandes, o curso pretende explicar os conceitos teóricos por trás do espetáculo homônimo e criar um ambiente sensorial que permita ao público interagir com a iluminação, a trilha sonora e os objetos cênicos da performance.

Trata-se de uma atividade complementar à performance exibida dia 01 de setembro no Sônia Cabral, que teve origem na pesquisa de Fernandes sobre a participação dos povos Bantus no processo de construção e formação da identidade afro-capixaba. “O projeto surgiu em 2010, durante minhas investigações sobre o tema africanidades. Realizei um estudo sobre a identidade afro-capixaba com foco nos povos tradicionais de matrizes africanas. Percebi que os Bantus, um grupo etnolinguístico, teve um grande impacto em diversos aspectos socioculturais capixabas”, explica.

O curso tem por objetivo a formação de plateia e a disseminação de conhecimentos. É voltado para pesquisadores e estudiosos do tema africanidades, além de historiadores, antropólogos, educadores, líderes de comunidades quilombolas, coletivos, escolas e companhias de dança, bailarinos/dançarinos, coreógrafos, coordenadores e ativistas de sindicatos e movimentos sociais.

Além do coreógrafo, participam do curso o iluminador André Stefoni e Dona Laura Felizardo, representante dos povos Bantus no Espírito Santo e mãe do artista.

“A minha mãe sempre me contava histórias e narrativas enquanto eu ia crescendo. Foi a partir dela que eu comecei a pesquisar a dançar. Suas histórias dialogam perfeitamente com os elementos fundamentais da minha performance. Eu acho que poucos bailarinos capixabas já convidaram suas mães para estarem com eles no palco. Eu acho importante, principalmente nos tempos em que estamos vivendo”, conta Fernandes.

Ele explica que Dona Laura foi neta do senhor Colodino Felizardo, mestre e capitão da banda Alegria. De acordo com o artista, Felizardo foi responsável trazer do continente africano (Congo-Angola) os ritmos do congo para o município de João Neiva, no distrito Acioli.  

Fernandes reforça a importância de ter um espaço cultural direcionado para a realização de ações de formação. “Recentemente o Sônia Cabral vem abrindo suas portas para artistas e produtores que queiram ensinar seus ofícios, isso permite ao artista local trazer suas produções culturais, experiências e ter um laboratório de criação. Uma iniciativa inédita e de extrema importância para o estudo das artes cênicas e da cultura”.

Sobre o autor

Paulo Fernandes iniciou sua carreira artística em 1977, tendo estudado expressão corporal, técnicas de interpretação e vocal. Participou de vídeos, exposições fotográficas, cartazes, catálogos, revistas, cartões, documentários para tv e filmes para o cinema. Em 86 foi convidado a integrar a Cia Brasileira de Dança Contemporânea Neo–Iaô. Além disso, trabalhou com talentos nacionais, como Klauss Vianna, Jocy de Oliveira, Ayrton Pinto, Aderbal Júnior, Jaceguay Lins, Jorge Pombo, Ana Maria Kieffer, Maria Abumjanra.

No ano 2000, foi selecionado para representar o Espírito Santo no projeto Balaio Brasil do SESC-Ipiranga (SP). A extensa programação apresentou artistas como Elza Soares, Barão Vermelho, Ira, Alcione, Cordel do Fogo Encantado e Naná Vasconcelos, Tony Garrido, Mestre Ambrósio, João Bosco, Paulinho Moska e Lordose pra Leão.

Em 2004, criou o projeto Dia da Consciência Comunitária, que recebeu congratulações da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Também recebeu honra ao mérito da Câmara Municipal de Vitória pelo desempenho para as questões da Consciência Negra em 2008.

Em 2009 recebeu o Prêmio Klauss Vianna de Dança da Fundação Nacional de Artes (Funarte) para a montagem do espetáculo afro contemporâneo Simbolein. Neste mesmo ano, foi um dos representantes da dança afro-capixaba no Fórum Nacional de Performance Negra na Bahia.

Desde 2009 é titular no Sindicato dos Artistas, titular no Conselho Municipal dos Negros, membro do Movimento Nacional dos Direitos Humanos/ES e associado a Plataforma Internacional de Desenvolvimento Educacional e Sociocultural. Também foi convidado pelo Instituto Quorum para se apresentar na França em agosto de 2010, nos Festivais Espírito Poitou, na cidade de Celles-sur-Belle e em Aix-en-Provence (Festival Provence).

Reverenciado pela crítica francesa, Fernandes recebeu o título de “bailarino do simbolismo afro-brasileiro” pelo Journal Nouvelle République.

Recentemente foi homenageado com a Comenda e medalha de Notório Saber Cultural pela Câmara Municipal de Vitória por desenvolver pesquisa sobre os povos tradicionais Bantu.

Texto: Carla Nigro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *